terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Orlando. Um único corpo, múltiplos indivíduos


Vita Sackville-West (Imagem: Google)
                                                                      
Vita Sackville-West foi uma poetisa, romancista e jardineira que viveu entre 1892 e 1962. Recebeu por duas vezes o Hawthornden Prize, um importante prêmio por seus poemas. 

Era uma aristocrata que se rebelou contra as normas e os padrões estabelecidos pela sociedade de sua época. Viveu intensas paixões e se casou com Harold Nicholson que era diplomata, jornalista, autor de biografias e romances e bissexual, tanto quanto Vita. Ambos viveram várias histórias homossexuais extraconjugais, que pouco afetou o casamento deles. Era um casal moderno e à frente do seu tempo. Era uma relação aberta, onde cada um tinha a liberdade de viver histórias de amor ou de sexo, conforme o seu desejo, rejeitando  as convenções matrimoniais regidas pela exclusividade.

Violet Trefusis
     
              
Das histórias de amor lésbico vividas por Vita Sackville-West talvez a mais longa e conturbada  tenha sido com Violet Trefusis, uma amiga de infância, cujo romance se iniciou ainda na adolescência. Muitas vezes, depois de casada com Harold, Vita se vestia com roupas de homem, se fingindo de rapaz e partia com sua Violet na maioria da vezes para a França. Vita adotou um nome masculino que ela usava nessas ocasiões: Julian.

As cartas de amor trocadas por elas foram reunidas e publicadas, resultando no livro que conta alguns detalhes dos encontros, das férias que passavam juntas, dos conflitos vividos por elas e também do ciúme que Violet sentia de Vita. Ela queria uma exclusividade que Vita nunca pode oferecer.   
Também uma outra publicação conta a história de amor de Vita e Violet. Pelo menos em parte. O livro Orlando (1928), de Virginia Woolf  tem como inspiração biográfica a vida de Vita Sackville-West com quem ela viveu uma linda história de amor já no final da década de 1920.
Orlando era um jovem cônsul inglês que nasceu na Inglaterra da Idade Moderna e um dia após muitos séculos como homem, depois de dormir por sete dias quando estava na Turquia, ele acorda  e descobre que agora o seu corpo é de mulher.Quando volta à terra natal Orlando precisa enfrentar as duas possibilidades de sua nova vida: ser homem e ser mulher. Aparentemente Orlando conquista a imortalidade e o livro conta a sua vida no período entre 1600 e 1928, ocasião em que o livro é escrito. 

É uma história completamente atual e, como bem registra a enciclopédia livre "que expressa as ambiguidades da identidade feminina e masculina e suas relações com a condição humana". Orlando era Vita Sackville-West (ou o seria o seu contrário?), um homem que se transforma em mulher e, nas palavras da própria Orlando "a história de alguém que busca a vida e o amor". O livro é uma bela homenagem de Virginia Woolf à Vita e, segundo Nigel Nicolson, filho de Vita "a mais longa e mais encantadora carta de amor de toda a literatura".





O livro de Virginia Woolf teve várias adaptações para o teatro e uma para o cinema em 1992.  Orlando é um filme de Sally Potter, tendo não por acaso a atriz Tilda Switton no papel principal. Eu o assisti na época em que ele foi lançado no Brasil, no início dos anos 90. É um filme com momentos hilários, que registra algumas das ambiguidades vividas pela personagem, como seus namoros e decepções amorosas, a nova vida com os dois sexos e o amor pelo misterioso Shelmerdine (Billy Zane), com quem ela terá um filho. A melhor e talvez a mais completa crítica que li sobre o filme Orlando está no Clube do Livro. Vejam trecho a seguir:

"O mais importante é perceber que Swinton nos faz esquecer, na primeira metade do filme, que ela é de fato uma mulher interpretando um homem, tamanha é a qualidade de sua composição. Potter ainda se permite brincar, em outros momentos, com a questão de gênero, ao escalar o ator Quentin Crisp (ótimo!) para interpretar ninguém menos que a Rainha Elizabeth I. E o que dizer de Billy Zane que, no filme parece carregar mais feminilidade que Orlando, já metamorfizado em mulher?"

Virginia Woolf e Vita Sackville-West (imagem: Google)


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Só uma opinião.

Imagem: Google

Ando com muita preguiça de escrever. Inicialmente eu pensava que era porque ainda estou de férias, longe do trabalho e contaminada pelo clima de carnaval que anda tomando conta de Recife. 
Mas não é nada disso. O ano apenas está começando mas as notícias parecem muito velhas. Não parecem notícias de ano novo. Estão mais para reedições de velhas manchetes.

No Brasil, a notícia de maior repercussão na mídia na terceira semana do ano, foi o caso de violência sexual no programa da Globo BBB12, envolvendo o modelo-brother Daniel Echaniz e a sister-estudante Monique Amin. Como sempre acontece o programa promove uma festa, entope @s participantes de bebida alcoólica e aguarda o que a produção deve considerar 'os melhores momentos', que são transmitidos ao vivo em pay-per-view e editados para mostrar no dia seguinte. 
Na festa do sábado, tais momentos viraram caso de polícia. Já durante a madrugada do domingo (15/01) internautas exigiam a expulsão de Daniel e durante todo o dia esteve entre os assuntos mais comentados no twitter acompanhado da hashtag #Danielexpulso. No facebook e nos blogs também foi o assunto mais comentado. 

Marcha das Vadias - Recife
(Foto: acervo pessoal)
Daniel foi expulso do programa mas antes e depois disso todo tipo de baixaria circulou na internet e na imprensa. Uma mistura de machismo, racismo e misoginia deram o tom, reafirmando velhas facetas e ressuscitando ditados infames. Mas as feministas não deixaram por menos e enfrentaram tudo com maestria escrevendo sem parar, organizando atos de protesto e também exigindo a responsabilização da TV Globo
Na minha opinião houve sim, estupro no programa BBB12. A sister, que estava completamente desacordada pelo efeito do álcool ingerido, negou que houve violência sexual. Respeito o que ela diz. Sou solidária. Imagino a pressão que ela está sofrendo ali naquele serpentário chamado Projac. Mas isso é só uma opinião. O que vai acontecer, não sabemos. Aguardemos, pois. 

Leia também:
Polêmica do 'BBB' se espalha pela imprensa internacional
Em caso de dúvida, não estupre.
Biscate Social Club.
Operação Abafa lembra piores momentos da Globo

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Parabéns, querida Simone! Sempre!

Simone de Beauvoir (Imagem:Google)

Simone de Beauvoir nasceu em Paris, no dia 9 de janeiro de 1908.
"Nasci, às quatro horas da manhã, a 9 de janeiro de 1908, num quarto de móveis laqueados de branco e que dava para o Bulevar Raspail. Nas fotografias de família, tiradas no verão seguinte, vêem-se senhoras de vestidos compridos e chapéus empenados de plumas de avestruz, senhores de palhetas de panamás sorrindo para o bebê: são meus pais, meu avô, meus tios, minhas tias, e sou eu. Meu pai tinha trinta anos, minha mãe vinte e um, e eu era a primeira filha".
Com esse trecho Simone de Beauvoir começa o livro "Memórias de uma moça bem-comportada (ed. Nova Fronteira, 1983), um auto-retrato denso e realista. 
Simone era também uma memorialista contundente, verdadeira, que não poupava nem 
a si mesma.  O livro faz uma crítica aos valores da burguesia e é também um importante registro do movimento existencialista francês. 

Simone de Beauvoir foi escritora, filósofa e feminista. Não necessariamente nessa ordem. Ela estudou Letras, Matemática e Filosofia. Queria ser professora, até se tornar escritora. Simone de Beauvoir foi revolucionária em tudo que fez. No rompimento com a família, criticando a aristocracia francesa, os princípios católicos-burgueses. Estabelece com Jean-Paul Sartre um pacto de lealdade - onde a monogamia e a mentira nunca teriam lugar, mesmo que isso provocasse sofrimento. Para Sartre, antes de serem amantes, eles eram escritores e por isso deveriam conhecer profundamente a alma humana, como consta no site Simone de Beauvoir: "multiplicando suas experiências individuais e contando-as, um ao outro, nos mínimos detalhes. Entre Simone e Sartre o amor seria necessário, com as demais pessoas, seria contingente. Beauvoir aceita o pacto, pois ele está de acordo com suas próprias convicções". 

Eu gosto de tudo em Simone. Sua vida. Seu casamento aberto com Sartre. Suas histórias de paixões intensas por mulheres e homens. Seus triângulos amorosos. Viveu um longo caso de amor que se estendeu por quase vinte anos com Nelson Algren. O livro Cartas a Nelson Algren: um amor transatlântico, 1947-1964 (Rio de Janeiro, Nova Fronteira), descreve a intensidade desse romance, um amor que a tocou profundamente. 

Escandalizou na Universidade de Sorbonne em que dava aulas porque vivia em concubinato há anos com Sartre, porque dava aulas sobre escritores homossexuais - como Proust e Gide e também por ser bissexual. Tudo isso devia enlouquecer o reitor daquela universidade.        
        



Mas o que eu mais gosto em Simone de Beauvoir é a revolução que ela provocou quando escreveu o livro O Segundo Sexo, em 1949. Publicado em dois volumes, O Segundo Sexo fala sobre a condição feminina, a sexualidade, o corpo da mulher, questiona Freud e é considerado um marco do feminismo. 

                  "... não acredito que existam qualidades, modos de vida especificamente femininos: seria admitir a existência de uma natureza feminina, quer dizer, aderir a um mito inventado pelos homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas. Não se trata para a mulher de se afirmar como mulher, mas de tornarem-se seres humanos na sua integridade".
Simone de Beauvoir morreu em 1986, mas deixou um legado tão rico, grandioso e importante pro feminismo que é uma pena que nem todas as mulheres saibam que um dia ela existiu. 
Parabéns, Simone. Sempre!

As fotos do post são todas do google imagens.
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