sexta-feira, 29 de junho de 2012

Por trás dos panos

Eliane Brum é jornalista, escritora e documentarista. Às segundas-feiras ela escreve uma coluna na revista Época. Quase nunca leio essa revista, mas gosto bastante de ler o que a Eliane escreve e por vezes divulgo seus artigos nas redes sociais. Reproduzo aqui, o texto de Eliane Brum publicado no dia 18/06/2012, com o título "Por que a imagem da vagina provoca horror?" 

L'origine du monde (1866), Gustave Courbet, Musée d' Orsay, Paris
Muitos anos atrás, não sei precisar quantos, deparei-me com o quadro A origem do mundo (L’Origine du Monde, 1866) e me encantei. Nele, o francês Gustave Courbet pinta uma vagina. Cheguei a ela desavisada e fui tomada por uma sensação profunda de beleza. Forte o suficiente para sonhar, deste então, com a compra de uma reprodução, um plano sempre adiado. Quando passei a trabalhar em casa, há dois anos, desejei ainda mais ter o quadro na parede do meu escritório, onde reúno tudo aquilo que me apaixona em um pequeno universo perfeito e só meu. No último aniversário, em maio, meu marido me deu a reprodução de presente. Só na semana passada, porém, o quadro chegou da vidraçaria onde fez escala para receber moldura. Então, algo inusitado aconteceu. 
Ouvi um grito:
Eu estava no quarto e saí correndo, alarmada, para ver o que tinha acontecido. Encontrei Emilia, a mulher que limpa nossa casa uma vez por semana, com o rosto tomado por um vermelho sanguíneo, diante de A origem do mundo, que, ainda sem lugar na parede, jazia encostado em um armário.  
- É o fim do mundo! – gritava ela, descontrolada. – Nunca pensei ver algo assim na minha vida! Eliane, que coisa horrível!
Meio atordoada, eu repetia: “Não é o fim do mundo, é o começo!”. E depois, sem saber mais o que fazer para acalmá-la, me saí com essa estupidez: “É arte!”. Como se, por ser “arte”, ela tivesse de ter uma reação mais controlada, quando é exatamente o oposto que se espera. Beirando o desespero diante do desespero dela que eu não conseguia aplacar, apelei: “Mas, Emilia, metade da humanidade tem vagina – e a humanidade inteira saiu de uma vagina! Por que você acha feio?”.
O fato é que, para Emilia, era o fim do mundo – e não o começo. Tentei fazer piada, mas percebi que a perturbação não viraria graça. A questão para ela era séria – e ela só não pedia demissão porque trabalha há 12 anos comigo e temos um vínculo forte. Naquele dia, Emilia despediu-se incomodada e passei a temer que talvez ela não suporte olhar para o quadro a cada quinta-feira.
Por que Emilia, uma mulher adulta, que me conta histórias escabrosas da vida real, se horrorizou com a visão de uma vagina? Por que eu me encantei com a visão de uma vagina? Quando vivo uma experiência de transcendência, em geral eu não quero saber sobre a história da pintura que a produziu, porque temo perder aquilo que é só meu, a sensação única, pessoal e íntima que tive com aquela obra. É uma escolha possivelmente besta, mas faz sentido para mim. Por isso, eu quase nada sabia sobre “A origem do mundo”, para além do fato de que eu a adorava. Só no ano passado, ao ler um pequeno livro sobre um dos grandes nomes da história da psicanálise, o francês Jacques Lacan, soube que ele foi o último dono da pintura. Nos anos 90, sua família doou o quadro para o Museu D’Orsay, em Paris, onde está desde então. 
Graças ao estranhamento de Emilia, transtornada que foi pela experiência artística quando se preparava para passar o pano no chão, fui levada a um percurso inesperado. Descobri que A origem do mundo causa escândalo desde que foi pintada. E agora quem está horrorizada sou eu, mas pela ausência de horror em mim diante do quadro. Por quê? Por que eu não sinto horror? O que há de errado comigo que não sinto horror?, cheguei a me perguntar. De repente, nossas posições, a minha e a de Emilia diante do quadro, inverteram-se. Eu, que não compreendia o horror dela, passei a suspeitar do meu não horror.
Eis uma breve trajetória da obra. A origem do mundo foi encomendada a Courbet, um pintor do realismo, por um diplomata turco chamado Khalil-Bey. Colecionador de imagens eróticas, ele pediu um nu feminino retratado de forma crua. E Courbet lhe entregou um par de coxas abertas, de onde despontava uma vagina após o ato sexual. A obra teria sido instalada no luxuoso banheiro do milionário, atrás de uma cortina que só se abria para revelar o proibido para uns poucos escolhidos. Khalil-Bey teria perdido a pintura em uma dívida de jogo, momento em que a tela passa a viver uma série de peripécias. 
O quadro teve vários donos e, ao que parece, todos o escondiam atrás de uma cortina ou de uma outra pintura. Na II Guerra Mundial, algumas versões afirmam que chegou a ser confiscado pelos nazistas do aristocrata húngaro ao qual pertencia. Em seguida, passou uma temporada nas mãos do Exército Vermelho. Até que, após uma acidentada jornada, em 1954 foi comprado por Lacan e instalado na sua famosa casa de campo.
Até mesmo Lacan, um personagem pródigo em excentricidades e sempre disposto a chocar as suscetibilidades alheias, ocultava o quadro com uma outra pintura, encomendada ao pintor surrealista André Masson com esse objetivo. Como uma porta de correr, esse “véu” retratava uma vagina tão abstrata que só um olhar atento a adivinhava. Apenas visitantes especiais ganhavam o direito de desvelar e acessar a vagina “real”. Segundo Elisabeth Roudinesco, a biógrafa mais notória de Lacan, o psicanalista gostava de surpreender os amigos deslocando o painel. Anunciava então “A origem do mundo”, com a seguinte declaração: “O falo está dentro do quadro”. Boa parte dos intelectuais apresentados à tela ficava, como Emilia, bastante incomodada.
Por quê? 
Que há algo perturbador no órgão sexual feminino não há dúvida. Até nomeá-lo é um problema. Vagina, como tenho usado aqui, parece excessivamente médico-científico. É como pegar a língua com luvas cirúrgicas. Boceta ou xoxota ou afins soa vulgar e, conforme o interlocutor, pejorativo. É a língua lambuzada pelo desejo sexual – e, por consequência, também pela repressão. Não há distanciamento, muito menos neutralidade possível nessa nomeação. É uma zona cinzenta, entregue a turbulências, e a palavra torna-se ainda mais insuficiente para nomear o que Courbet chamou de “A origem do mundo”. Para Lacan, “o sexo da mulher é impossível de representar, dizer e nomear” – uma das razões pelas quais teria comprado o quadro.

Em busca de respostas para o horror de Emilia, que, por oposição, revela o meu não horror, naveguei por algumas interpretações do quadro – e da perturbação gerada por ele. Jorge Coli, historiador, crítico de arte e autor de um livro sobre Courbet para a editora francesa Hazon, assim comentou sobre A origem do Mundo, em um artigo publicado em 2007: “Parece-me a radicalização do processo de transformar a mulher em um objeto orgânico, pois ele esconde a cabeça (pensante) e os braços e pernas (elementos da ação). Vemos a ponta do seio e, sobretudo, o sexo”. Coli assinala que uma das questões do século XIX era a ameaça do desejo contida no feminino. Inerte, entregue à contemplação, a mulher não ameaçaria.

Em algumas manifestações escandalizadas, o fato de Courbet ter “reduzido” a mulher a um pedaço da anatomia foi considerado uma afronta. Uma mulher sem cabeça, sem braços, sem história. A pintura chegou a ser definida pelo escritor e fotógrafo francês Maxime Du Camp como um “lixo digno de ilustrar as obras do Marquês de Sade”. Análises mais psicanalíticas explicam o horror de quem olha pela castração. Diante do espectador, entre as coxas abertas da mulher se revelaria a ferida aberta, a falta, a impossibilidade de ser completo. As mulheres se horrorizariam pela constatação da castração, os homens pelo temor a ela. Se alguns olhares produzem pistas, outros reforçam apenas o incômodo que a obra produzia.
O efeito do quadro já foi tentado em fotografias de mulheres, em geral prostitutas, colocadas na mesma posição, mas o resultado revelou-se diverso. Ao transpor para a fotografia, não é mais a imagem de Courbet, mas outra. Até que, em 1989, uma artista francesa, Orlan, fez algo marcante – e com grande potencial para gerar polêmica – a partir da obra original. Ela reproduziu a pintura trocando a vagina por um pênis – ou a boceta por um caralho. E chamou-a de A origem da guerra. Olhar para essa imagem causa um estranhamento, especialmente porque a posição, deitada de costas, é muito mais íntima da mulher do que do homem. O pênis, no caso, se oferece ereto ao olhar, mas a partir de um corpo na horizontal, entregue.

É instigante, desde que a provocação não seja reduzida a um feminismo indigente, banalizado pela crença pueril do “a mulher gera a vida, o homem a morte”. A intenção de Orlan, segundo Roudinesco, era bem mais refinada. Ela “pretendia desmascarar o que a pintura dissimulava, realizando uma fusão da ‘coisa’ irrepresentável com seu fetiche negado”. Reivindicava então a “imprecisão do gênero e da identidade” que marca o nosso tempo, anunciando, por sua vez: “Sou um homem e uma mulher”.

O que se pode afirmar é que Courbet revelou o que está sempre coberto, oculto, escondido. No Carnaval brasileiro, por exemplo, como lembra a psicanalista Maria Cristina Poli em um artigo interessante sobre o feminino, tudo é exposto – e até superexposto – do corpo da mulher, menos a vagina. Mas a força do quadro não está só no “mostrar”. Há algo de incapturável e único na forma como Courbet mostrou o “imostrável”, já que a transposição da imagem para a fotografia não causa o mesmo efeito. E o que é?
Não sei.

A vagina pintada por Courbet é peluda como não vemos mais nos dias de hoje. A depilação quase total do sexo feminino tornou-se um popular produto de exportação do Brasil. Tanto que virou um dos significados da palavra “Brazilian” no renomado Dicionário Oxford: "Estilo de depilação no qual quase todos os pelos pubianos da mulher são retirados, permanecendo apenas uma pequena faixa central”. Pelo visto, a partir dos trópicos supostamente liberados e sexualizados, a vagina depilada virou um clássico contemporâneo.

Este é um ponto interessante. Ao primeiro olhar, a extração dos pelos serviria para revelar mais a vagina, mas me parece que este é mais um daqueles casos, bem pródigos na nossa época, em que se mostra para ocultar – a superexposição que ofusca e cega. A vagina sem pelos é uma vagina flagelada – e arrancar os pelos com cera é mesmo um flagelo. É também uma vagina infantilizada pela força. E é ainda uma vagina esterilizada, já que vale a pena lembrar que no passado recente essa depilação agressiva só acontecia nos hospitais para, supostamente, facilitar o parto. “Se não depilo totalmente, me sinto suja”, disse-me uma amiga. Suja?

Em janeiro de 2000, a atriz Vera Fischer exibiu sua vagina peluda em um ensaio fotográfico da revista Playboy. Causou furor. Falou-se na “Mata Atlântica”, na “Amazônia”, na “selva” onde sempre é perigoso penetrar. Havia algo de poderoso e incontrolável na vagina em estado “natural” de Vera Fischer, e a polêmica se fez. Era uma mulher não domesticada ali. Uma mulher adulta.
Não me parece – e nunca saberemos se tenho razão – que, se Courbet tivesse pintado uma vagina careca, ela teria causado tanto o horror de Emilia quanto o êxtase em mim. A vagina pintada por Courbet é uma vagina que revela. Mas o quê?

Não sei. A maravilha da arte é que ela nos transtorna sem a menor intenção de nos dar respostas – muito menos caminhos a seguir. A arte é sempre labiríntica. Não há sentimentos “certos” ou “errados” diante da expressão artística, há sentimentos apenas. Movimentos. Que nos levam por aí, aqui. É em respeito a essa ideia que decidi não colocar nenhuma imagem do quadro aqui, nem mesmo um link – ou um atalho – para a imagem na internet. A busca da origem do mundo é pessoal e intransferível. Assim como a decisão de buscá-la.

A obra de Courbet sempre foi oculta por uma outra pintura. Ou cortina. Exceto agora, que a exibição no museu deu a ela uma espécie de salvo-conduto, por ser ali “o lugar certo”. De algum modo, até então, a vagina mais famosa da História da Arte fora coberta por um véu – além do véu representado pela própria pintura.

Decidi não cobrir minha reprodução de A origem do mundo com uma burca. Vamos ver o que acontece.  




segunda-feira, 18 de junho de 2012

Balada de Gisberta


Imagem: Google

  Balada de Gisberta
  Perdi-me do nome,
Hoje podes chamar-me de tua,
Dancei em palácios,
Hoje danço na rua.
Vesti-me de sonhos,
Hoje visto as bermas da estrada,
De que serve voltar
Quando se volta p’ró nada.
Eu não sei se um Anjo me chama,
Eu não sei dos mil homens na cama
E o céu não pode esperar.
Eu não sei se a noite me leva,
Eu não ouço o meu grito na treva,
E o fim vem-me buscar.
Sambei na avenida,
No escuro fui porta-estandarte,
Apagaram-se as luzes,
É o futuro que parte.
Escrevi o desejo,
Corações que já esqueci,
Com sedas matei
E com ferros morri.
Eu não sei se um Anjo me chama,
Eu não sei dos mil homens na cama
E o céu não pode esperar.
Eu não sei se a noite me leva,
Eu não ouço o meu grito na treva,
E o fim vem-me buscar.
Trouxe pouco,
Levo menos,
E a distância até ao fundo é tão pequena,
No fundo, é tão pequena,
A queda.
E o amor é tão longe,
O amor é tão longe… (…) 

  Maria Bethânia Viana Teles Veloso nasceu no dia 18 de junho de 1946, em Santo Amaro da Purificação,   na Bahia. Segundo o jornal atarde.uol.com.br Maria Bethânia vai comemorar seu aniversário de 66 anos com a mãe, Dona Canô em Santo Amaro.  
  Hoje eu poderia escrever o quanto Bethânia tem sido importante na minha vida, alegrando e marcando tantos momentos. Sua voz, interpretação e poesia tem me acompanhado desde a minha juventude e,  ouso dizer, temos envelhecido juntas, ainda que ela lá e eu cá. Podem dizer que ela é cafona, não me importa. Podem dizer que ela canta músicas de dor de cotovelo. Não me importo. Eu também tenho um pé na cafonice e muitas vezes Bethânia serviu de trilha sonora para meus amores e dores.
 

 "Ficaram as canções e você não ficou".

 

O Álbum Oásis de Bethânia, lançado em março desse ano (2012), é o seu mais novo trabalho.
Todo sucesso, sorte e saúde à Abelha Rainha. Feliz aniversário, Maria Bethânia!

domingo, 17 de junho de 2012

Vidas Inteiras

Vidas inteiras
Adriana Calcanhoto

Não seja por isso eu não tenho pressa
Eu posso esperar vidas inteiras
Mas tenha certeza de que lhe interessa
Deixar escapar o ouro do agora
Para que não seja numa tarde dessas tarde demais

Não seja por isso eu não tenho pressa
Eu posso esperar vidas inteiras
Mas tenha certeza de que lhe interessa
Deixar escapar o ouro do agora
Para que não seja qualquer tarde dessas tarde demais.

   

 Acesse também:
www.adrianacalcanhotto.com

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Uma vida sem violência é um direito das mulheres.





Reproduzimos abaixo denúncia feita contra militante, assessor de candidato a prefeito do Rio Branco no Acre e dirigente do Partido dos Trabalhadores, homem que atende pelo nome de Jô Luiz Fonseca
Segundo a denúncia esse senhor intimida a ex-mulher que por diversas vezes foi agredida fisicamente por ele. O post foi escrito pela psicóloga Madge Porto e publicado originalmente no Blog da Amazônia, de Altino Machado.
Exigimos que o Partido dos Trabalhadores tome providências imediatas sobre o caso, se pronuncie sobre o assunto e dê o exemplo. No Brasil, a violência contra a mulher é crime e o agressor deve ser punido.


A lei n° 11.340, de 07 de agosto de 2006, conhecida como Lei Maria da Penha:
"Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do §  
8° do artigo 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e erradicar a
violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra 
a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras
providências".

Portanto, Nenhuma tolerância à violência praticada contra as mulheres.



Eis o texto-denúncia:
Há muito tempo milito no movimento feminista por entender que as mulheres têm direitos pelo simples fato de serem humanas. Assim, não aceito que mulheres sejam agredidas, ganhem menos pelo mesmo trabalho que um homem faz ou que seja a principal responsável pelos cuidados com as crianças. Para defender esses direitos é que também me filiei ao PT, ainda quando morava em Olinda (PE), antes de me fixar no Acre.
Diante dessa trajetória, é que venho publicamente para mostrar minha indignação diante de um fato que muito me choca e me assusta. Não apenas por ser feminista, mas por ser pesquisadora do tema sobre a violência contra as mulheres.
A Lei Maria da Penha é fruto da luta das mulheres diante de tanta violência sofrida, principalmente pelos homens da família e mais precisamente maridos e companheiros, ex-maridos, ex-companheiros e ex-namorados.
Mulheres são agredidas a cada quatro minutos no Brasil, 28,9% a 36,9% das mulheres já sofreram violência física e/ou sexual (D'Oliveira et al., 2009) e que 76% as mulheres usuárias do serviço público de saúde relatam pelo menos um episódio de violência na vida (Schraiber et al., 2007).
Isso demonstra que a violência está presente na vida das mulheres apesar de toda nossa luta. Ainda precisamos recorrer à lei, que agora, através do ativismo jurídico do Supremo Tribunal Federal, amplia as possibilidades de denúncia, pois qualquer pessoa que presenciar ou souber que uma mulher sofre violência pode fazer a denúncia. E é amparada nessa lei que faço meu relato.
O petista Jô Luiz Fonseca é um homem que bate em mulher -disso sou testemunha-, e continua intimidando a ex-mulher dele, que é minha amiga, em situações públicas. Ele é assessor do pré-candidato a prefeito do PT em Rio Branco, Marcus Alexandre, além de sobrinho do senador Aníbal Diniz (PT-AC), que jamais apoiou o comportamento violento dele em relação à ex-mulher.
Jô Luiz Fonseca já extrapolou os limites da boa convivência, da cultura de paz e do direito da mulher, qualquer mulher, viver sem violência. É por isso que me vejo no dever de tornar pública a questão.
Fiz a denúncia inicialmente ao PT de forma que tomassem uma providência internamente. Mas não obtive nenhuma resposta. O PT de Rio Branco não deu nenhuma atenção à minha denúncia.
Fiz também a denúncia junto à Secretaria Estadual de Mulheres do Acre. Obtive orientações de procurar a Delegacia da Mulher (atitude que as vítimas já tinham tomado) e promessa de apoio jurídico caso necessitassem. Assim, diante de todas essas tentativas, não me restou outra forma senão apelar para a mídia.
Por isso, descrevo mais detalhes: apesar de estarem divorciados, Jô Luiz Fonseca não deixa sua ex-esposa em paz. Agora que juridicamente não estão mais casados, ele está ameaçando a ex-esposa e também as mulheres que são amigas dela e que estão acompanhando-a nas situações públicas. Ele parece achar que pode tudo, não sei se por conta do cargo de confiança que ocupa no governo estadual, embora, no meu entendimento, deveria ser um cargo que o colocasse como alguém que deve ser exemplo de figura pública e não de desrespeito aos diretos das mulheres.
Outra questão que me intrigou foi a atitude da Delegacia da Mulher diante da queixa: não atuou como deveria, pois orientou as mulheres agredidas a irem para casa para "se protegerem" e ele, o agressor, ficou numa festa, já por duas vezes.
Com o meu relato quero apenas que ele pare de incomodá-la, que não se ache no direito de intervir na vida dela e nem de nenhuma outra mulher. Talvez por ser uma pessoa importante do partido se ache nesse direito, contudo o que me preocupa é que homens de bem, profissionais de respeito, pais de família e homens sem antecedentes criminais assassinaram suas namoradas, esposas ou ex, como foram os casos de Doca Street, que matou a companheira Ângela Diniz, do jornalista Pimenta Neves que matou a ex-namorada Sandra Gomide, de Lindomar Castilho, que matou a ex-esposa Eliane de Grammont, ou do jovem Lindberg, que matou a ex-namorada, a adolescente Eloá, só para citar alguns exemplos.
Todos os dias, mulheres são mortas desse jeito no Brasil por homens que não admitem que as mulheres deem um fim à violência para viver outra vida. Homens que se veem como donos das mulheres e que num momento de desespero, que eu avalio como desespero do machismo mais absoluto, matam as mulheres. Depois, arrependidos e desesperados, agora pela culpa, dizem que não queriam matar. Ou, o que é pior, que fizeram por amor.
Acredito que de fato eles se arrependam de ato tão horrendo, contudo esse arrependimento não devolve a vida das vítimas, e em nada mudará as consequências da mutilação sofrida, como foi o caso da biofamacêutica Maria da Penha Fernandes, quem deu o nome à lei 11340/2006, mais conhecida como Lei Maria da Penha, que ficou paraplégica. Assim, é preciso que se fale, que se denuncie, que não fiquemos acuadas para que nenhuma outra mulher seja vítima de tragédias como essa e depois os assassinos fiquem soltos, refaçam suas vidas e as mulheres tenham perdido a única oportunidade que se tem de viver.
Caso esse episódio fique sem uma resolução concreta, será uma vergonha para o Partido dos Trabalhadores. Sinto-me indignada com esses acontecimentos e não quero ser acusada de ter calado diante da violência. Não quero um prefeito para Rio Branco que, sendo sabedor desses fatos, não se posicione e não tenha uma intervenção concreta no caso, pois trata-se de uma pessoa que assessora e apoia a sua candidatura. Caso a candidatura seja vitoriosa, certamente o agressor fará parte da administração municipal, principalmente quando diante de uma denúncia como esta todos se calaram.
É considerando tudo isso que venho a público solicitar ao homem público Jô Luiz Fonseca, que conheço há alguns anos, que já frequentou a minha casa e eu a deles quando eram casados, que, em nome dos direitos que as mulheres têm de uma vida sem violência, que siga a sua vida e deixe que sua ex-esposa siga a dela. E que os homens e mulheres do PT, em especial o candidato a prefeito Marcus Alexandre, ajudem a trazer bom senso às atitudes de seu assessor. Por fim, que, se nada disso for suficiente, que se faça Justiça.
Madge Porto é psicóloga clínica no Acre.

Esclarecimento
O Blog da Amazônia conversou por telefone com Jô Luiz Fonseca, a quem ofereceu o mesmo espaço para que possa se manifestar. Ele enviou a nota de esclarecimento a seguir:
"Venho manifestar indignação com o fato relatado pela psicóloga que trata de questões particulares à minha família. Cabe aqui esclarecer que não existe nenhuma intimação na Justiça contra minha pessoa em relação a minha ex-esposa e nem em relação a qualquer outra mulher. Respeito à mãe do meu filho e todas as mulheres que fazem ou não parte da minha vida.
Intimidação a quem quer que seja, principalmente à minha ex-mulher não faz parte do meu caráter e da minha formação familiar. O único contato que mantenho com ela é para tratar de assuntos relacionados ao nosso filho, onde sempre buscarei exercer o meu direito de pai, que é cuidar, educar, dar carinho e condições para que ele possa se tornar um cidadão de bem.
Peço apenas que o meu nome e o da minha família sejam preservados de ataques que visam apenas caluniar e tentar me prejudicar no plano pessoal e profissional.
Finalmente, gostaria de ressaltar que mantenho em dia minhas obrigações de pai, com o pagamento das despesas do nosso filho, honrando todos os compromissos da separação judicial, que foi feita de forma amigável e que  atualmente não exerço nenhum cargo de confiança no governo."