segunda-feira, 19 de março de 2012

Aborto livre, seguro e gratuito

                                                             
                                                    
"A primeira vez que eu tive uma relação sexual com um homem, fiquei grávida.  Eram os anos oitenta. Eu estava na universidade, cheia de esperança, alegrias e sonhos. Nem me passava pela cabeça interromper os meus sonhos e planos e enfrentar uma gravidez. Eu nunca tinha falado ou discutido sobre aborto. Não pensei 2 vezes. Não tinha a grana necessária (na época era  5mil cruzeiros). Falei com o cara. Peguei uma parte com ele e outra,  uma feminista que soube do problema, doou. Nunca vou esquecer o que ela fez por mim. Eu era capaz de fazer qualquer coisa, mas eu não ia levar aquela gravidez adiante. Fui num lugar sujo,  na periferia da cidade, fiquei 3 dias muito mal e até hoje não sei como não tive uma infecção. A sensação de ter resolvido o problema é indescritível. Uma mistura de alívio, com felicidade, com retomada da vida".


Esse relato é meu mesmo, mas poderia ser de qualquer outra mulher. Algumas estão desesperadas. Há relatos de mulheres que se jogam na frente de um carro, que pulam de alturas (muitas, de árvores), de mulheres que se furam com agulha de tricô (e correm o risco de ter o útero perfurado).  Os métodos são falhos e na maioria voltados para as mulheres - DIU, Diafragma, pílula, injeções; há uma cultura que desresponsabiliza os homens pela tarefa da contracepção; há o inconsciente que interfere (o desejo de ter e de não ter); há ainda muita desinformação sobre o funcionamento do próprio corpo (conheci mulheres que acreditavam que a camisinha se perde no corpo - sim, que vai pro estômago, ou até pro cérebro; outras que asseguram que as mulheres podem engravidar fazendo sexo anal e que por isso, na hora do parto a criança força para sair pelo ânus). 

Do ponto de vista médico (ou clínico), o abortamento é um procedimento simples, rápido e seguro, mas a ilegalidade faz com que muitas mulheres morram nos serviços de saúde em decorrência de um aborto mal feito. No documento Atenção Humanizada ao Abortamento, do Ministério da Saúde, especialmente entre as páginas 33 e 40, é possível entender melhor sobre as técnicas de esvaziamento uterino para um abortamento seguro. O misoprostol continua sendo eficaz e seguro. Muitas vezes nem se faz necessária uma curetagem.

Por fim, falei sobre o desespero de algumas mulheres quando se deparam com uma gravidez indesejada. Mas há também aquelas situações em que as mulheres  decidem sem maiores problemas. Sem culpa. Sem sofrimento. Claro que por ser ilegal, há sempre um 'medo' rondando as mulheres, principalmente nesses tempos em que muitas clínicas tem sido estouradas.

Defendo que as mulheres possam fazer um aborto - interromper uma gravidez - independente da razão que a levou a tomar aquela decisão. Defendo que o aborto seja legalizado no Brasil como já acontece em vários países. Descriminalizar e legalizar o aborto são reivindicações históricas dos movimentos feministas em vários países da América Latina e Caribe, inclusive no Brasil. Já falei sobre isso aqui e aqui A ilegalidade do aborto viola os direitos humanos das mulheres e impõe a maternidade obrigatória, ferindo a autonomia das mulheres e sua dignidade. 

Por isso, fiquei bem feliz com a notícia sobre a comissão de juristas criada pelo Senado para elaborar o novo Código Penal que já aprovou um anteprojeto que prevê, entre outros pontos, a ampliação dos casos em que o aborto é legal.

Vou brigar e apoiar essa comissão do senado. Vou atrás de saber o que os movimentos feministas estão defendendo, mas desde já, levo a minha opinião de ser favorável ao que a comissão está propondo.

terça-feira, 13 de março de 2012

"Será que é tempo que lhe falta pra perceber?"

Reproduzo a seguir, Nota das mulheres do Partido dos Trabalhadores de Pernambuco sobre as declarações do Presidente do Partido em relação às mulheres.

Recife, 12 de março de 2012.

Companheiras e companheiros do Partido dos Trabalhadores,

Nós que compomos a Secretaria estadual de Mulheres do PT/PE, fomos surpreendidas com a declaração ao Jornal do Commércio, na edição de domingo 11/03, do Presidente do Partido no estado, o deputado federal Pedro Eugênio, cujo trecho destacamos abaixo:

O desafio feminino de conquistar o poder

Publicado em 10/03/2012

O presidente estadual do PT, Pedro Eugênio, acredita que as cotas estabelecidas pela lei não resolvem o problema, pois muitas vezes não há uma preparação delas para o mundo da política para que tenham uma real competitividade nas urnas. “Muitas vezes os partidos preenchem as candidaturas com mulheres só para cumprir a lei”, afirma. Ele ainda julga que, embora as mulheres tenham avançado bastante no mundo corporativo, pouquíssimas se interessam pela vida pública. Apesar disso, afirma que dentro do PT não existe um estímulo diferenciado nem uma preparação específica para a candidatura de mulheres.

Seguindo na contramão das nossas lutas e conquistas feministas, o presidente Pedro Eugênio, demonstrou um grande desconhecimento sobre a participação das mulheres na construção partidária quando em 1991 o PT aprovou a política de cotas de 30% para as mulheres, sendo o primeiro a fazê-lo em toda a América Latina.

Ao declarar que “pouquíssimas se interessam pela vida pública”, o presidente nos indigna e nos envergonha perante os movimentos de mulheres e feministas, nos expõe diante de outros partidos (inclusive os de direita), com uma opinião particular, que em muito reflete uma cultura misógina e machista.

No ano em que o voto feminino completa 80 anos e quando o Partido dos Trabalhadores avança com a paridade, lembramos ao presidente que o cargo exercido por ele requer postura e reconhecimento de que as mulheres são partícipes de primeira hora, desde a fundação em 1980 até às eleições que garantiram a chegada do PT às Câmaras Municipais, Prefeituras, Câmara Federal, Senado e Presidência da República.

Portanto, queremos citar Suely de Oliveira (fundadora do PT/PE, componente da Secretaria Estadual de Mulheres e do Coletivo Nacional de Mulheres/PT), que escreveu em seu Blog Matizes Feministas (10/09/2011):

“Como a memória da militância às vezes é curta, é preciso sempre lembrar aos visitantes e aos novatos que essa grande conquista só foi possível depois de muita luta das feministas organizadas no Partido”. 

Exigimos, portanto, uma retratação pública por parte do presidente do Partido dos Trabalhadores, Pedro Eugênio, que com sua postura, demonstra um desconhecimento da história do próprio Partido, fere a democracia interna e o nosso exercício de cidadania.


                                          Secretaria Estadual de Mulheres do PT/PE.

Coletivo Estadual de Mulheres do PT/PE.

 

quinta-feira, 8 de março de 2012

Dia Internacional de Luta das Mulheres

Fernanda Estima
Hoje o Matizes Feministas publica o post da jornalista e feminista Fernanda Estima.

Um post sobre o 8 de março…
O que mais falaria sobre o Dia Internacional de Luta das Mulheres?
Faço questão de escrever o nome do dia por extenso, se possível, frisando o “de Luta”, para que não pairem dúvidas: neste dia diversas mulheres, no mundo todo, organizam atividades, atos, passeatas, manifestações (ultimamente também muitas blogagens coletivas) e ações variadas para relembrar que há mais de 100 anos gritamos por igualdade e oportunidades, por direito ao nosso corpo, por menos violência, por divisão das tarefas domésticas, por uma mídia não sexista, por humor com graça e sem machismo, por um outro mundo possível…



São tantos anos de luta, tantas pautas que foram chegando, se apresentando e muitas vezes tomando grande espaço no debate feminista, como ocorreu com temas como trabalho rural e meio ambiente.

Para não me alongar, até porque hoje é dia de ir para a rua com a mulherada entoar as nossas alegres e provocantes palavras de ordem, que sem sombra de dúvida fazem parte da nossa insistência:

João, João, cozinhe seu feijão/
José, José, faça o seu café.

Aqui está o manifesto lançado pelas entidades, grupos e partidos para este 8 de março, em São Paulo.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Nossos corpos nos pertencem.



Hoje postamos no Matizes Feministas a convocatória do ato unificado dos movimentos de mulheres do Recife para  o 8 de março - Dia Internacional da Mulher. O evento vai acontecer no centro da cidade, a partir das 15h na Pracinha do Diário, um lugar que acumula histórias de atos públicos e protestos. 
Veja a seguir os detalhes da manifestação e como participar. 


8 de Março de 2012: movimento de mulheres reafirmam
nossos corpos nos pertencem!”


A partir das 15h, na Praça do Diário, centro do Recife, ato público unificado marcará
o Dia Internacional da Mulher.


Para unir forças, neste 8 de Março – Dia Internacional da Mulher, movimentos de mulheres do Recife realizam um ato unificado, a partir das 15h, na Praça do Diário, Centro do Recife, Pernambuco. O ato será por liberdade e autonomia. Entre as organizações do movimento de mulheres, é consenso a necessidade de enfrentar os ataques à dignidade feminina e marcar a manifestação com diversas expressões feministas pela liberdade e autonomia das mulheres.

Cerca de 200 mulheres irão se unir contra: o controle do corpo pelo Estado e a violação masculina por meio da violência sexual; contra a mercantilização e exploração do corpo das mulheres pela medicina estética, pela pornografia, pela propaganda, e contra a mercantilização da maternidade. Com faixas, cartazes, panfletos, dizeres e músicas, as feministas irão demonstrar combatividade e disposição para luta.

A Tribuna das Mulheres, um espaço destinado à apresentação de reivindicações de seus direitos, é um dos momentos mais aguardados dentro da programação do ato unificado. Além da Tribuna, haverá uma instalação de mulheres com corpos pintados, tratando do significado da autonomia e a luta pela liberdade, que está sendo organizada pelo Grupo de Teatro Loucas de Pedra Lilás, em conjunto com as integrantes do Fórum de Mulheres de Pernambuco.


Conjuntura – Nos primeiros meses de 2012, as mulheres têm vivido fortes ataques à dignidade. No programa Big Brother Brasil (BBB), da TV Globo, assistimos a estupro. Do Ministério da Saúde recebemos a Medida Provisória 557 que propõe a criação de cadastro obrigatório para vigilância das gestantes. Na Paraíba, houve caso de estupro coletivo. No plano do Judiciário, a revisão do Código Penal, no capítulo de Crimes contra a Vida, será uma das mais polêmicas por conta da questão do aborto. Na propaganda, o CONAR reconheceu que há abusos por parte de empresas, por meio da exploração mercantil do corpo e da sexualidade feminina. Em comum, estes fatos têm a desqualificação das mulheres, tratadas como irresponsáveis, inconsequentes ou incapazes de decidir sobre a própria vida. Além disso, é notório o crescimento do controle do Estado sobre o corpo das mulheres, na tentativa de se implantar a maternidade forçada às mulheres que decidem abortar uma gravidez indesejada.

Por tudo isso, neste 8 de Março, mulheres de vários movimentos sociais, como a Central Única dos Trabalhadores/as, o FMPE, a Liga Brasileira de Lésbicas, o Fórum de Reforma Urbana, o CRESS-PE, estudantes e professoras universitárias irão a público reafirmar “nossos corpos nos pertencem!”.

Fontes para entrevistas:
Silvia Camurça (SOS Corpo / FMPE / Articulação de Mulheres Brasileiras) - (81) 3087.2086 / 9937.8635
Márcia Ramos (UBM/FMPE): (81) 9213.3084
Taís Nascimento / Liga Brasileira de Lésbicas: (81) 8777.1666
Tanany Reis (CRESS-PE) – (81) 8608.3910
Vera Baroni (Articulação de Mulheres Negras Brasileiras): (81) 8624.1123 / 9977.3743
Cristina Nascimento (Loucas de Pedra Lilás / FMPE / Articulação de Mulheres Brasileiras) - (81) 8514.7873
Sula Valongueiro (Curumim/ FMPE /Articulação de Mulheres Brasileiras) - (81) 9116.3028


Assessoria de Imprensa:
Mariana Moreira (SOS Corpo): (81) 9699-7996
Emanuela Castro (Casa da Mulher do Nordeste): (81) 9193-2315


terça-feira, 6 de março de 2012

Nosso corpo, território de quem?!



O blog Matizes Feministas aproveita as comemorações  do 8 de março - Dia Internacional da Mulher - para publicar posts de várias feministas. O primeiro deles é de Cecilia Cuentro, do Movimento Feminino Popular. Aí vai! Boa leitura.

                                                     Nosso corpo, território de quem?!
Do Estado que insiste em fechar os olhos para os direitos da mulher e a única coisa que sabe fazer “por nós” são medidas que cerceiam mais os direitos sobre os nossos corpos, mentes e escolhas, que inclusive foi cobrado pela ONU (Organização das Nações Unidas) no inicio desse ano, a se explicar em relação às mortes provocadas pelo aborto, prática de 1 milhão de mulheres por ano e que o Governo faz questão de fingir que não ocorre, dando mais atenção aos valores cristãos dessa sociedade que às mortes de milhares de negras e pobres que morrem em condições sub-humanas de abortamento.

Pertencemos também a uma Constituição que até pouco tempo atrás nos colocava enquanto sujeitas aos nossos maridos, cujas leis ainda são feitas por homens e para homens, que poucos passos têm dado no caminho de reconhecer os direitos das mulheres a reger sua própria vida. Pertencemos ainda, a Igreja. Nossos corpos sempre foram por essa instituição colocados em prisões e revistas constantes, nos posicionando como um ser criado por Deus no objetivo de procriar e encher o mundo de crianças, fazendo desse, nosso único e restrito papel na sociedade, servindo nessa vida para honra e glória do senhor e por isso sendo objeto de coerção pesada: nossas roupas, nossas escolhas, com quem mantemos relações ou não, quantos filhos queremos ter e se queremos e a vontade ou não de casamento; tudo isso sempre foi controlado por padres, bispos e toda hierarquia religiosa. Tivemos nossos corpos queimados durante a Inquisição, tivemos e continuamos a ter a culpa pelas mazelas do mundo, porque Eva comeu a maçã e assim por diante.

Somos propriedade também e, sobretudo da sociedade em que vivemos, machista, heteronormativa, sexista e patriarcal, na qual existem mulheres para casar e mulheres para curtir; que milhares de nós são mortas diariamente por homens inconformados com nossas escolhas e com nossos “não”, que nos estupram em massa nos chamados “estupros corretivos” devido às nossas orientações sexuais, que nos julga por andarmos de saias curtas, por bebermos, sairmos e vivermos nossa liberdade. Essa sociedade que não aceita que nós trabalhemos, a não ser se enfrentamos duas jornadas de trabalho para não deixar de cuidar de maridos e filhos, que não aceita que nossos corpos são nossos e que nem pai, nem filho, nem namorado nem marido tem direito de nos obrigar a ser como não queremos ser.



Enfim, somos de todo mundo, só não somos de nós mesmas. Todos que acreditam ter o direito de vigiar nossos corpos e escolhas, de nos impor regras e leis como a Medida Provisória 557, que quer cadastrar gestantes no momento da descoberta da gravidez, no intuito de fiscalizar essas mulheres e o que elas vão fazer com a sua gravidez, visando dessa forma acompanhar os passos de mulheres que por ventura não queiram continuar com a gravidez. E ainda dizer que nós somos livres, pois vivemos no pais democrático. Será?!
Dina Sfat (imagem: google)
E para além disso tudo, tem a mídia que faz questão de nos mostrar todos os dias como devemos nos comportar, como devemos ser. Magras, loiras e malhadas, trabalhadoras bem sucedidas, que tem filhos e que corre o dia todo, mas, mas ao fim do dia está linda e perfumada para o marido cansado do trabalho. Como se não nos cansássemos e fôssemos máquinas de satisfazer a tudo e a todos. Até quando?! Até quando seremos obrigadas a viver vigiadas e oprimidas por tudo e por todos?! Chega! Nós queremos liberdade de viver, de pensar e de estar na rua às dez da noite sem sermos estupradas ou violentadas, queremos ser livres para amar quem quisermos e se quisermos, para sermos gordas ou magras, sem ditaduras, para estudar sem sermos assediadas por professores e funcionários nas universidades e trabalharmos sem sofrer assédios de patrão.

Queremos a liberdade da Revolução Francesa, que deu aos homens o direito de ser quem eles querem ser. Ainda queremos mais, queremos o direito de querer e de não querer!
Meu corpo, minha escolha, minha escolha meu direito e meu direito eu quero garantido por uma sociedade livre do machismo e que nos olhe de igual para igual e não como objeto, serva de deus, progenitora ou algo que o valha! 

quinta-feira, 1 de março de 2012

Prá não dizer que não falei das flores...

Imagem: http://emeceara2011.blogspot.com
                 
Já começaram os comerciais de promoção e descontos. Inúmeras promoções de eletrodomésticos, que prometem acabar com o sofrimento das mulheres na cozinha e no lar, reforçando a ideia e comportamento que coloca as tarefas domésticas como uma atribuição das mulheres.


Os diretores lojistas sempre dão um jeito de esquentar o comércio nessa época do ano, que corresponde a uma certa 'entressafra', já que somente no mês de maio as vendas voltam a disparar. Então, entre o carnaval e o mês das mães e das noivas tem... o 8 de março! 

Então eles inventam de tudo e de certa forma tem se apropriado comercialmente de uma data que é muito, mas muito especial mesmo para os movimentos feministas e de mulheres. Como todo mundo já sabe, o 8 de Março é o Dia Internacional da Mulher.

Imagem:Google
Já faz alguns anos que isso vem acontecendo. Nas repartições, o chefe (ou a chefa) compra as rosas vermelhas e distribui com as funcionárias. Geralmente o próprio (ou a própria) se encarrega da tarefa de fazer a entrega. Abre aquele sorrisão, cheio das boas intenções, dá "os parabéns" e entrega o presente que muitas vezes fica lá no copo à espera do final do expediente para só então ser levado dali. 
Tem também aqueles que providenciam um café da manhã, onde todos sorriem e cumprimentam as mulheres dando os parabéns pelo "seu dia". 

Claro que sempre tem os colegas de trabalho que correspondem ao estilo 'perdem um amigo, mas não perdem a piada' e dizem coisas que juram e acreditam ser engraçadas como "Aproveite bem, que só tem hoje" ou "Ainda não entendi porque tem um dia da mulher e não tem nenhum dia do homem". E todo mundo ri daquelas piadas horrorosas e sem graça.

Bom, tem também os maridos. Os irmãos. Os amigos. O porteiro do prédio. Todos em uníssono a lhe cumprimentar, dando "os parabéns" pelo seu dia. E, claro, você é testemunha viva de gentilezas, todo tipo de mimo e agrados que a imaginação deles permite para mostrar o quanto reconhecem o dia da mulher. 

Claro que tem também as promoções de motel, afinal de contas eles acreditam às vezes sinceramente que é também dia de fazer um agrado à "patroa". E muitas vezes as promoções se estendem por todo o mês de março. Lojas de departamento, salão de beleza, cosméticos e maquiagem e tudo que for possível associar as vendas às mulheres.   

Clara Zétkin e Rosa Luxemburgo
(Imagem: Google)
Não tenho nada contra os mimos, gentilezas, presentes e outras e delicadezas, embora eu tenha cá as minhas restrições a incentivar o consumismo. 
O Dia Internacional da Mulher é um dia de luta. É um dia de mobilização, de manifestações públicas, de debates e de reflexão pela igualdade de gênero e por melhoria das condições de vida para as mulheres. 
No mundo inteiro as mulheres vão às ruas para comemorar as conquistas, protestar contra a violação de direitos, gritar pelo fim da violência doméstica e sexual e reivindicar políticas públicas para a igualdade entre mulheres e homens.
O 8 de Março é mais um dia de luta pela descriminalização do aborto, mais um dia para dizer que nenhuma mulher deve ser presa ou morrer por ter feito um aborto. 
O Dia Internacional da Mulher é um dia de luta pelo direito à diversidade sexual e contra a lesbofobia.
É mais um dia de luta contra todo tipo de discriminação que as mulheres vivenciam em todos os dias do ano.
Portanto, antes de entregar as flores, antes de dar os parabéns e, principalmente antes de fazer aquela piada, lembre-se de tudo isso.
Viva Clara Zétkin, Rosa Luxemburgo, Simone de Beauvoir, Sueli Carneiro, Frida Khalo, Chiquinha Gonzaga, Clementina de Jesus, Eleonora Menicucci, Margarida Alves, Lélia Gonzalez, Patricia Galvão, Chica da Silva, Clara Charf, Safo, Luiza Bairros, Clarice Lispector, Benedita da Silva, Nara Leão, Luz Del Fuego, Carolina Maria de Jesus, Dalva de Oliveira e todas que ousaram e ousam desafiar a ordem patriarcal e machista, racista e branca, heteronormativa.