quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Estatuto do Nascituro: Eu digo Não!




A discussão sobre aborto é um tema que sempre volta ao nosso blog. Já discutimos AQUI e AQUI
Já falamos sobre a hipocrisia da sociedade em Operação Hipócrita e também quando do meu depoimento em Aborto livre, seguro e gratuito. 
O Estatuto do Nascituro - um dos maiores retrocessos e perversidade para com as mulheres - também já foi abordado AQUI no blog. O Projeto de Lei 478/2007, de autoria dos deputados Bassuma e Miguel Martini, tendo como relatora a deputada Solange Almeida, define que a vida humana começa na concepção, o que eliminaria a hipótese de aborto em qualquer caso.

Agora, o Estatuto do Nascituro voltou à pauta da Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados, que se reúne nessa quarta-feira (07), às 10h. A partir da campanha virtual realizada por·integrantes das articulações e redes, organizações e ativistas que trabalham para os Direitos Humanos das mulheres no Brasil, nós já reunimos mais de 4 mil assinaturas contra esse retrocesso. Com a possibilidade de votação desse projeto, é importante retomar a mobilização: assine e divulgue você também a petição que pede aos parlamentares para rejeitarem o Estatuto do Nascituro!

Também no Facebook foi criado um evento para ajudar a mobilizar virtualmente. É muito importante que todas possamos ajudar e divulgar, compartilhando nas redes sociais: https://www.facebook.com/events/526542344041366/


Veja o que diz a Frente nacional Contra a Criminalização das Mulheres e Pela Legalização do Aborto sobre o Estatuto do Nascituro: 

O Projeto de Lei visa estabelecer os direitos dos embriões, denominados de nascituros. Esse projeto, conhecido por Estatuto do Nascituro, baseia-se na crença que a vida tem início desde a concepção, ou seja, mesmo antes do ovo ser implantado no útero. O PL contraria o ordenamento jurídico vigente, ao atribuir direitos fundamentais ao embrião, mesmo que ainda não esteja em gestação, partindo de uma concepção equivocada de que o nascituro e o embrião humanos teriam o mesmo status jurídico e moral de pessoas nascidas e vivas.

O Estatuto do Nascituro viola claramente os Direitos Humanos e reprodutivos das mulheres, a Constituição Federal e a lei penal vigente - que não pune o aborto realizado em casos de risco de vida e de estupro - , ignora a relação de causa e efeito entre a ilegalidade do aborto, os altos índices de abortos inseguros, e as altas taxas de morbidade e mortalidade materna no Brasil, e põe em risco a saúde física e mental, e mesmo a vida, das mulheres.


domingo, 4 de novembro de 2012

Infância roubada: índias amazonenses são abusadas e exploradas sexualmente e não se faz nada.


Imagem: Google
Os crimes de estupro de vulnerável e exploração sexual têm penas previstas de quatro a dez anos de reclusão. É um assunto que incomoda. Revira o estômago. Trata-se de pedofilia. Uma das formas mais perversas de violência contra crianças e adolescentes. No entanto, apesar de abominável e horrendo, esse tipo de crime é comum no município de São Gabriel da Cachoeira, na fronteira do Brasil com a Colômbia.
Toda essa história está contada com detalhes na reportagem de hoje (04/10) da Folha de São Paulo sobre a venda de virgindade de meninas índias no Amazonas, da jornalista Kátia Brasil.
Segundo a reportagem, no referido município amazonense, um homem branco compra a virgindade de uma menina indígena com aparelho celular, R$ 20, peça de roupa de marca e até com uma caixa de bombons.
São Gabriel da Cachoeira fica no Alto Rio Negro, região rica em minérios que abriga a maior população indígena do Brasil. Segundo Kátia Brasil, são 22 etnias o que faz com que 90% da população - 38 mil habitantes - seja formada por índios, incluindo o prefeito e o vice-prefeito do município. A região, também conhecida como Cabeça de Cachorro, é estratégica para as Forças Armadas do Brasil, pois é alvo de tráfico de drogas e de incursões de guerrilheiros. Segundo a matéria, em muitas aldeias não há escolas e opções de sustento o que leva as famílias à cidade. E é exatamente lá que elas se deparam com a exclusão social e com o abuso e exploração sexual das meninas índias. "Os brancos formam a elite, em sua maioria funcionários públicos e militares. Os índios sobrevivem com ajuda de programas sociais e moram em casebres de chão de terra batida e sem água encanada. O alcoolismo e o suicídio entre eles são o maior drama social local".
A exploração sexual de crianças indígenas na região é denunciada desde 2008, conforme você pode ler AQUI. Na polícia civil três inquéritos foram abertos, mas nenhum dos nove suspeitos foi preso ou indiciado.
No mês passado, a Polícia Federal entrou na investigação, já que a denúncia vem desde 2008 e nenhum suspeito foi preso. Doze meninas já prestaram depoimentos. Os relatos das meninas falam de empresários do comércio local, de um ex-vereador, dois militares do Exército e um motorista.
Estamos falando de crianças, de meninas que estão sendo vilipendiadas, tendo a sua infância roubada por homens sem nenhum escrúpulo, em um município onde impera a impunidade.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Sobre a barbárie em Queimadas/PB: Seis réus foram condenados pelo estupro coletivo.


Boa parte de vocês devem ter acompanhado o terrível caso de estupro coletivo que aconteceu em Queimadas na Paraíba, em fevereiro deste ano. Finalmente temos uma boa notícia. É que foram condenados seis dos homens envolvidos no horrendo crime. Conforme o jornal Correio Brasiliense, "a sentença do crime tem 107 páginas e condena os réus por estupro, formação de quadrilha e cárcere privado. Ainda há outras três pessoas envolvidas na barbárie: o mentor Eduardo dos Santos - que ainda será julgado pelos mesmos crimes e ainda dois homicídios - e dois menores, que já foram julgados".

Relembrando. Durante uma festa de aniversário, os irmãos Eduardo e Luciano dos Santos combinaram o crime com mais nove comparsas. Eles atraíram as vítimas para a festa e, em determinado momento, simularam um assalto à casa e cometeram os estupros. De acordo com a sentença, "os mentores ainda tiveram o cuidado de pedir aos outros que não tocassem em suas mulheres que também estavam na festa".

Cerca de 10 homens - dentre eles três adolescentes, participaram dos crimes. Além dos seis condenados, os adolescentes cumprem medida socioeducativa no Lar do Garoto, em Campina Grande. Todos respondem por estupro, formação de quadrilha e cárcere privado. Além deles, também figura como réu Eduardo dos Santos Pereira. Além de todos esses crimes, ele ainda responde por porte ilegal de armas e assassinato. O julgamento dele será feito por um júri popular. A data ainda não foi definida.

Vítimas são a recepcionista Michele e a professora Isabela (Foto: Reprodução/TV Paraíba)
A recepcionista Michele e a professora Isabela foram
assassinadas após reconhecerem seus agressores
(Foto: Reprodução/TV Paraíba)
Segundo a matéria do Correio, "Luciano dos Santos foi condenado a 44 anos de prisão por estupro de cinco mulheres. Fernando e França Silva Júnior, vulgo 'Papadinha', e Jacó Sousa estupraram três vítimas e foram sentenciados a 30 anos. José Jardel foi condenado a 27 anos por estupro de uma mulher e colaboração nos demais. Luan Barbosa recebeu sentença de 27 anos e oito meses de prisão por participar do estupro de quatro vítimas. Diego Rêgo Domingues também participou dos estupros e foi condenado a 26 anos e seis meses. A diferença de penas deve-se à participação individual de cada um nos estupros e também aos antecedentes criminais".

Ainda no Correio, "de acordo com o Tribunal de Justiça da Paraíba, Eduardo dos Santos, considerado o mentor do crime, será julgado em júri popular em data ainda não definida. Além dos estupros, ele é condenado pelo assassinato de duas mulheres que o reconheceram durante os estupros. Segundo a sentença, a vítima identificada como Izabella percebeu que o agressor se tratava de Eduardo e chegou a implorar pela vida. Em seguida, outra mulher, Michelle, também reconheceu o estuprador. As duas foram amarradas e levadas em um carro. Durante o percurso, Michelle pulou do veículo em movimento, mas Eduardo parou o carro e atirou contra ela. De acordo com a sentença, Izabella também foi assassinada a tiros dentro do carro".

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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Pimenta Neves em liberdade?

Sandra Gomide (Imagem: Google0
Chama a atenção a notícia que saiu na coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo de hoje (02/10/12): 

"Preso há 16 meses em Tremembé (147 km de SP), o jornalista Pimenta Neves entrará com pedido de progressão de regime em maio do próximo ano. Terá cumprido 1/6 da pena de 15 anos pelo assassinato da ex-namorada Sandra Gomide. 'É quando, em tese, terá direito a passar para o regime semiaberto, podendo sair da prisão durante o dia para trabalhar', diz a advogada Maria José da Costa Ferreira.

No cálculo da advogada de Pimenta entram os 23 meses passados em regime fechado no presídio, somados a outros sete, quando ele esteve preso antes do julgamento, mais a remissão dos dias trabalhados na prisão. Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária, o jornalista está escalado desde 4 de abril para 'desenvolver atividades laborterápicas no setor de limpeza'. Cada três dias de trabalho geram um a menos na prisão. Pimenta Neves pretende escrever uma autobiografia".


A jornalista Sandra Gomide conheceu Pimenta Neves em 1997, quando ele foi contratado para dirigir o jornal Gazeta Mercantil, onde ela já trabalhava como repórter. Tiveram um namoro que durou três anos. Nesse meio tempo, Pimenta Neves foi trabalhar no jornal O Estado de São Paulo e levou a jornalista para trabalhar com ele. 

Com o fim do namoro, em 2000 ele a demite do jornal. Pimenta Neves por diversas vezes demonstrou um comportamento violento e, armado, chegou a invadir o apartamento em que Sandra morava. No dia 20 de agosto, ele a matou com um tiro na cabeça e outro nas costas, no Haras Setti em Ibiúna, interior de São Paulo.

Já falamos outra vez aqui no blog sobre esse brutal assassinato e a impunidade que marca o caso. Em março de 2001 o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, concede habeas corpus revogando a prisão preventiva do jornalista confesso de Sandra Gomide. Somente em 2006, depois do STF negar o adiamento do julgamento é que Pimenta Neves é condenado a 19 anos pelo homicídio duplamente qualificado de sua ex-namorada Sandra Gomide. Mesmo assim, o juiz não decreta a prisão do jornalista porque de acordo com o entendimento anterior do Supremo Tribunal Federal, ele tem o direito de recorrer da sentença em liberdade. 

Adicionar legenda
Onze anos depois de ter assassinado a tiros a jornalista Sandra Gomide, em maio de 2011 finalmente Pimenta Neves foi preso por decisão do Supremo Tribunal Federal, como você pode ler AQUI, em matéria do jornal O Globo.

"A polícia cercou a casa do jornalista no bairro do Alto da Boa Vista, zona sul de São Paulo, onde ele se encontrava e, já sabendo da decisão judicial, negociou se entregar aos policiais, que ameaçavam invadir a residência para prendê-lo ao amanhecer (a polícia não poderia prendê-lo entre 18h e 6h da manhã, conforme a legislação)". 

Assista o vídeo:




Agora essa notinha na coluna de Mônica Bérgamo traz de volta a impunidade do caso. Vamos acompanhar.

domingo, 16 de setembro de 2012

Vale garota de programa: o machismo da Ambev ultrapassa a linha de publicidade



Imagem: Google

A Companhia de Bebidas das Américas - Ambev, domina boa parte do mercado de bebidas no Brasil e também lidera em relação às denúncias trabalhistas, com acusações de humilhações, maus-tratos, agressões verbais e todo tipo de opressões no ambiente de trabalho, como você pode verificar AQUI e AQUI.
Além dos agravos praticados contra trabalhadores e trabalhadoras, a Ambev tem outras tantas denúncias de abuso de poder, como você pode constatar aqui.
Agora a Ambev volta outra vez a ser notícia, com novas denúncias de assédio moral. Segundo matéria publicada no site noticias.uol.com.br, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) manteve a condenação para a Ambev por danos morais a um funcionário que foi submetido a comparecer a reuniões nas quais estavam presentes garotas de programa, sendo também obrigado a assistir filmes pornôs.

Com o título "Me sentia um lixo, diz vendedor que era obrigado pela Ambev a participar de eventos com prostitutas", o site traz uma entrevista do microempresário Elcio Milczwski, de Curitiba, sobre os anos em que trabalhou na Ambev e foi submetido a constrangimentos como ter que presenciar garotas de programa tirarem a roupa em sua frente, passar óleo bronzeador no corpo delas e a assistir filmes pornográficos em reuniões, segundo ele de "motivação" da equipe de vendas da qual fazia parte.

Quando entrou na Ambev em 2001, Elcio tinha 23 anos e seu trabalho era percorrer mercados, bares, restaurantes e outros pontos de vendas, para coletar pedidos de compras, sempre com um computador de mão. Segundo ele conta na entrevista, a partir de 2003 as reuniões  matinais promovidas pela empresa com a equipe de vendas se tornaram "pouco ortodoxas". As garotas de programas eram utilizadas como forma de incentivo para o aumento de vendas e os empregados que batiam as metas recebiam um "vale garota de programa". O autor da ação diz que chegou a ser amarrado e que era obrigado a assistir filmes pornôs e chegou a ter uma stripper levada à sua sala.
Agora, a Ambev deverá pagar a indenização de R$ 50 mil por conta de "assédio moral decorrente de constrangimento, ainda segundo a matéria.

Como se pode ver, o machismo da Ambev ultrapassa a linha de publicidade das cervejas. É parte de um tratamento desrespeitoso à classe trabalhadora, às pessoas e aos consumidores em geral.



Imagem feita de telefone celular por um dos participantes foi anexada aos autos do processo
Imagem feita de telefone celular por um dos participantes foi anexada aos autos do processo



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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Visibilidade Lésbica - 29 de agosto




Foto: Google

Como já falei AQUI no blog, o 29 de agosto é o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. É uma data que surgiu em 1996 no I Seminário Nacional de Lésbicas do Brasil - SENALE.

É uma data que deve ser lembrada, divulgada e comemorada. Lésbicas têm muitas conquistas e alguns resultados positivos no que se refere às políticas públicas. Mas ainda é preciso muita luta, muita organização e mobilização.

O Brasil ainda é um país carregado de preconceitos em relação à orientação sexual e de gênero, que muitas vezes se reflete em violências cotidianas para as pessoas LGBT. 
Por isso, nesse 29 de agosto um brinde e a certeza que a luta continua. Abraços!



Imagem Google


Unidade Feminista no PT (facebook)



domingo, 26 de agosto de 2012

Petição para liberar a pílula anticoncepcional para venda livre.




Reproduzo AQUI o texto da Petição para liberar a pílula anticoncepcional para venda livre:

A ANVISA pretende, a partir de 2013, realizar vigilância nas farmácias para garantir que elas exigem receita médica para medicamentos "tarja vermelha" (vendidos sob prescrição médica), entre os quais se inclui a pílula anticoncepcional. A justificativa é a de que tais medicamentos podem trazer riscos á saúde. No entanto, os riscos trazidos por uma gestação são muito maiores do que os ocasionados pelo uso da pílula. Considerando a escassez de médicos no sistema público de saúde, a demora e, muitas vezes, falta de qualidade no atendimento, e o elevado preço de consultas com médicos particulares, exigir receita médica para anticoncepcionais é restringir desnecessariamente o acesso a um dos métodos contraceptivos mais eficazes, e traz muito mais ameaças á saúde do que a venda da pílula sem receita médica.
O Ministério da Saúde lista, em Manual Técnico, 21 problemas de saúde que podem ser causados pela gravidez, além de 32 condições que, caso presentes, tornam a gestação de alto risco para a pessoa gestante e para o feto:http://www.enf.ufmg.br/internatorural/textos/Manuais/Gesta%E7%E3o%20de%20Alto%20Risco%20-%20Manual%20T%E9cnico_arquivos/GestacaodeAltoRisco-ManualTecnico.htm Pesquisadores dos hospitais paulistas São Camilo e Santa Rosa apontam para o elevado índice de óbito (80%) em pacientes com insuficiência hepática aguda causa pela gestação.
Mesmo quando a pessoa é portadora de condições que, associadas com o uso da pílula, podem trazer risco à saúde, trata-se de condições que também tornam arriscada uma eventual gestação, inclusive para o feto. É o caso, por exemplo, da hipertensão, uma das maiores causas de morte materna, como faz prova estudo publicado na Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia:http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbgo/v27n9/27565.pdf Da mesma forma, outros fatores que desaconselham o uso de anticoncepcional, tais como tabagismo, obesidade e lúpus também contribuem fortemente para o grau de risco de uma gestação (cabe lembrar que apenas recentemente, com o avanço da tecnologia médica, o lúpus deixou de ser considerado fator proibitivo para a gravidez).
Há que se levar em conta o grau de dificuldade de acesso da maior parte da população à saúde. Consultas na rede particular tem preços inacessíveis a boa parte da população, enquanto o SUS apresenta escassez de médicos e altos períodos de espera para atendimento. Deve-se ainda ressaltar o desconforto que a consulta ginecológica pode representar, afastando pacientes por motivos relacionados a desconforto com a exposição do próprio corpo ou com os exames ginecológicos, e experiências desagradáveis com médicos que se comportam de forma insatisfatória ou antiética, como apontado em excerto de dissertação de mestrado disponibilizado na Revista Brasileira de Ginecologia e Obstertrícia:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-30982008000100004. Além disso, o sistema não tem condições de atender de forma efetiva gestantes, como comprova pesquisa do IPEA realizada em 2002, que constatou que, em 22 capitais brasileiras, o tempo de espera para atendimento a gestantes era de mais de 12 horas, ultrapassando 24 horas em 12 capitais:http://www.ipea.gov.br/pub/td/2006/td_1151.pdf
Desde o início da comercialização da pílula anticoncepcional, as farmácias nunca exigiram apresentação de receita médica para sua compra. E, embora tal medicamento encontre-se no mercado há mais de 50 anos (sendo que os primeiros anticoncepcionais continham ainda mais hormônios do que os presentes atualmente no mercado), sua livre comercialização nunca trouxe problemas de saúde para a população. Pelo contrário, foi fundamental em possibilitar planejamento familiar à parcela da população mais desprovida de recursos financeiros e de acesso a saúde.
Pelos motivos acima expostos, pleiteamos à ANVISA que inclua os contraceptivos orais, inclusive a contracepção de emergência, na lista dos Medicamentos Isentos de Prescrição - MPI, e que os membros do Grupo de Trabalho responsável por apresentar propostas relativas a tais medicamentos incluam tal demanda em suas propostas.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Romina Tejerina


Reproduzo artigo de Isabel Clemente, editora da revista Época, no Rio de Janeiro. Somente hoje tive a a oportunidade de ler o texto, embora desde o dia 1 de agosto ele esteja circulando nas bancas e pela internet. É uma história de muita perversidade, violência e injustiça. O pior é constatar que as mulheres continuam abandonadas e sem políticas públicas eficazes, mesmo que "amparadas" pela lei. Segundo o artigo, depois do caso a suprema corte ratificou a legalidade do aborto em casos de violação, mas ao que parece, as mulheres continuam abandonadas à própria sorte.

Estuprada, engravidou e matou o recém-nascido. Ela foi condenada. O estuprador, não

No dia 23 de fevereiro de 2003, a jovem Romina Tejerina, então com 18 anos, matou com 21 facadas seu bebê recém-nascido. Condenada a 14 anos por homicídio qualificado, ela cumpriu dois terços da pena e foi liberada há poucos dias, reacendendo um debate que dividiu a Argentina nos últimos anos.
Moradora de uma província pobre do norte do país, Romina denunciou ter sido vítima de um estupro. A gravidez não desejada foi levada adiante. Em entrevista ao jornal La Nación, pouco depois da tragédia, ela disse que só se lembrava do choro do bebê e da cara do estuprador. Era uma tentativa de colocar em palavras o inexplicável.
A recente liberação de Romina foi criticada pelos argentinos nas redes sociais. O crime de Romina mobilizou a sociedade argentina como poucos, conta Veronica Smink, jornalista da BBC, em artigo recém-publicado. Grande parte da sociedade apoiou o veredicto, no entanto, os militantes dos direitos das mulheres, apoiados por artistas e legisladores, seguiram protestando, afirmando que Romina também era vítima das circunstâncias, segundo relato da jornalista.
Não recebeu cuidados e atenção, vinha de uma origem humilde, não tinha ferramentas para lidar com uma gravidez não desejada. Ainda teve que lutar só contra a vergonha que o papel de violada lhe impunha.  Estudiosos argentinos afirmam que, na província natal de Romina, a taxa de estupros está 70% acima da média nacional e que, não raro, as mulheres são acusadas de ter provocado o estupro. No caso de Romina, um dos argumentos usados contra ela foi o fato de ela estar dançando de minissaia na fatídica noite da violência sexual. Parece filme, mas é a infeliz realidade ainda, dos nosso vizinhos, do nosso quintal. O vizinho acusado do estupro tinha o dobro da idade de Romina e chegou a ser preso, mas o crime nunca foi provado. Não fizeram exame de DNA no suspeito, não exumaram o corpo do bebê, não houve produção de provas.
O caso  Romina, a meu ver, é o exemplo de uma situação que se perpetua sem fronteiras. Um crime não justifica outro, você deve estar pensando, e eu  concordo. A história é triste do início ao fim e todos os possíveis caminhos a partir da violência seriam igualmente difíceis. Lamentável Romina não ter  tido apoio legal e psicológico para evitar a gestação decorrente de uma violência. No Brasil, um dos dois casos de aborto sem punição é justamente a violação. O tema é polêmico e não estou dizendo aqui que eu, com certeza, abortaria. São decisões pessoais, forjadas em cima de crenças e das condições físicas, psicológicas e também financeiras de cada mulher. Não sou militante de causa alguma, mas eu me pergunto por que Romina não teve acesso à pílula do dia seguinte. Por que o crime sexual não foi punido? Por que as mulheres ainda sentem vergonha de uma situação da qual são vítimas?
Medidas simples e eficazes – entre as quais destaco em primeiríssimo lugar condenação rígida de crimes sexuais para desestimular os loucos de plantão – teriam evitado o pior: o cruel assassinato de um bebê indefeso.
A história trágica de Romina acabou sendo um divisor de águas na Argentina. Em março de 2012, a suprema corte ratificou a legalidade dos abortos em caso de violação. Mas a falta de apoio a mulheres nessas situações continua em aberto.

terça-feira, 31 de julho de 2012

As mulheres do Recife exigem respeito. Voto é coisa séria!


Nota de Repúdio

Seguindo na contramão da história de nossas lutas e conquistas, o candidato a prefeito da cidade do Recife, Geraldo Júlio, em panfleto virtual na sua página no facebook (facebook.com/geraldo40) coloca as mulheres – eleitoras, cidadãs e sujeitos políticos que somos – como noivinhas no altar.
Queremos repudiar essa atitude, que é além de tudo machista e conservadora, considerando que já se foi o tempo em que o papel da mulher era encontrar um marido, ter filhos e ser uma dona de casa perfeita.
O nosso voto é coisa séria e não estamos à espera do príncipe encantado que nos vai salvar do dragão.
Por outro lado, com essa imagem o candidato “esquece” que o Supremo Tribunal Federal reconheceu a união estável entre pessoas do mesmo sexo, e que, portanto, existem outras formas de casamento e de família.
Nós mulheres somos a maioria do eleitorado brasileiro, em um país com quase 136 milhões de eleitores. Temos uma mulher presidenta da República, mas a nossa representação no Congresso Nacional não condiz com a nossa força. Na Câmara Federal temos apenas 8,77% do total da casa, com 45 deputadas. No Senado, são apenas 12 mulheres para um total de 81 lugares.
No mercado de trabalho, permanecem as desigualdades entre mulheres e homens.
No campo da violência, infelizmente os homens ainda dispõem dos corpos das mulheres da forma como bem lhes convém. Estupros, assassinatos e espancamentos são freqüentes e os índices de violência contra a mulher são alarmantes.
Infelizmente ainda precisamos lutar para que respeitem os nossos direitos e reconheçam a nossa autonomia. As mulheres de Recife exigem ser tratadas como sujeitos políticos e de direitos, como cidadãs e como gente.

Secretaria Estadual de Mulheres do PT de Pernambuco







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quinta-feira, 26 de julho de 2012

Feliz Dia da Avó!

Hoje é dia da avó e do avô. Segundo a enciclopédia livre, essa data surgiu para comemorar o dia de Santa Ana e São Joaquim, que eram respectivamente a mãe e o pai de Maria e avós de Jesus Cristo. Recebi parabéns, telefonema da minha neta e carinho de amigas nas redes sociais. Viva!
Casualmente vi um vídeo sobre vovozinhas que gostam de vovozinhas. O vídeo faz uma reflexão sobre como as lésbicas e bissexuais femininas estão envelhecendo, se o preconceito aumenta ou diminui com o passar dos anos e outras questões relacionadas.
Às vovozinhas que gostam de vovozinhas, a minha homenagem. A todas outras, também!
Feliz Dia da Avó!  



Veja também o site:

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Frida Kahlo, presente!


Frida Kahlo (imagem: google)
Frida nasceu e morreu no mês de julho, em Coyoacán, no México.Sua biografia tem sido amplamente divulgada. Sua vida, contada de todas as formas. Nem sempre justas, nem sempre fieis e nem sempre correspondendo a sua vida real. Parte do mito foi construído pela própria Frida. 
Frida Kahlo, Presente!

 

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Por trás dos panos

Eliane Brum é jornalista, escritora e documentarista. Às segundas-feiras ela escreve uma coluna na revista Época. Quase nunca leio essa revista, mas gosto bastante de ler o que a Eliane escreve e por vezes divulgo seus artigos nas redes sociais. Reproduzo aqui, o texto de Eliane Brum publicado no dia 18/06/2012, com o título "Por que a imagem da vagina provoca horror?" 

L'origine du monde (1866), Gustave Courbet, Musée d' Orsay, Paris
Muitos anos atrás, não sei precisar quantos, deparei-me com o quadro A origem do mundo (L’Origine du Monde, 1866) e me encantei. Nele, o francês Gustave Courbet pinta uma vagina. Cheguei a ela desavisada e fui tomada por uma sensação profunda de beleza. Forte o suficiente para sonhar, deste então, com a compra de uma reprodução, um plano sempre adiado. Quando passei a trabalhar em casa, há dois anos, desejei ainda mais ter o quadro na parede do meu escritório, onde reúno tudo aquilo que me apaixona em um pequeno universo perfeito e só meu. No último aniversário, em maio, meu marido me deu a reprodução de presente. Só na semana passada, porém, o quadro chegou da vidraçaria onde fez escala para receber moldura. Então, algo inusitado aconteceu. 
Ouvi um grito:
Eu estava no quarto e saí correndo, alarmada, para ver o que tinha acontecido. Encontrei Emilia, a mulher que limpa nossa casa uma vez por semana, com o rosto tomado por um vermelho sanguíneo, diante de A origem do mundo, que, ainda sem lugar na parede, jazia encostado em um armário.  
- É o fim do mundo! – gritava ela, descontrolada. – Nunca pensei ver algo assim na minha vida! Eliane, que coisa horrível!
Meio atordoada, eu repetia: “Não é o fim do mundo, é o começo!”. E depois, sem saber mais o que fazer para acalmá-la, me saí com essa estupidez: “É arte!”. Como se, por ser “arte”, ela tivesse de ter uma reação mais controlada, quando é exatamente o oposto que se espera. Beirando o desespero diante do desespero dela que eu não conseguia aplacar, apelei: “Mas, Emilia, metade da humanidade tem vagina – e a humanidade inteira saiu de uma vagina! Por que você acha feio?”.
O fato é que, para Emilia, era o fim do mundo – e não o começo. Tentei fazer piada, mas percebi que a perturbação não viraria graça. A questão para ela era séria – e ela só não pedia demissão porque trabalha há 12 anos comigo e temos um vínculo forte. Naquele dia, Emilia despediu-se incomodada e passei a temer que talvez ela não suporte olhar para o quadro a cada quinta-feira.
Por que Emilia, uma mulher adulta, que me conta histórias escabrosas da vida real, se horrorizou com a visão de uma vagina? Por que eu me encantei com a visão de uma vagina? Quando vivo uma experiência de transcendência, em geral eu não quero saber sobre a história da pintura que a produziu, porque temo perder aquilo que é só meu, a sensação única, pessoal e íntima que tive com aquela obra. É uma escolha possivelmente besta, mas faz sentido para mim. Por isso, eu quase nada sabia sobre “A origem do mundo”, para além do fato de que eu a adorava. Só no ano passado, ao ler um pequeno livro sobre um dos grandes nomes da história da psicanálise, o francês Jacques Lacan, soube que ele foi o último dono da pintura. Nos anos 90, sua família doou o quadro para o Museu D’Orsay, em Paris, onde está desde então. 
Graças ao estranhamento de Emilia, transtornada que foi pela experiência artística quando se preparava para passar o pano no chão, fui levada a um percurso inesperado. Descobri que A origem do mundo causa escândalo desde que foi pintada. E agora quem está horrorizada sou eu, mas pela ausência de horror em mim diante do quadro. Por quê? Por que eu não sinto horror? O que há de errado comigo que não sinto horror?, cheguei a me perguntar. De repente, nossas posições, a minha e a de Emilia diante do quadro, inverteram-se. Eu, que não compreendia o horror dela, passei a suspeitar do meu não horror.
Eis uma breve trajetória da obra. A origem do mundo foi encomendada a Courbet, um pintor do realismo, por um diplomata turco chamado Khalil-Bey. Colecionador de imagens eróticas, ele pediu um nu feminino retratado de forma crua. E Courbet lhe entregou um par de coxas abertas, de onde despontava uma vagina após o ato sexual. A obra teria sido instalada no luxuoso banheiro do milionário, atrás de uma cortina que só se abria para revelar o proibido para uns poucos escolhidos. Khalil-Bey teria perdido a pintura em uma dívida de jogo, momento em que a tela passa a viver uma série de peripécias. 
O quadro teve vários donos e, ao que parece, todos o escondiam atrás de uma cortina ou de uma outra pintura. Na II Guerra Mundial, algumas versões afirmam que chegou a ser confiscado pelos nazistas do aristocrata húngaro ao qual pertencia. Em seguida, passou uma temporada nas mãos do Exército Vermelho. Até que, após uma acidentada jornada, em 1954 foi comprado por Lacan e instalado na sua famosa casa de campo.
Até mesmo Lacan, um personagem pródigo em excentricidades e sempre disposto a chocar as suscetibilidades alheias, ocultava o quadro com uma outra pintura, encomendada ao pintor surrealista André Masson com esse objetivo. Como uma porta de correr, esse “véu” retratava uma vagina tão abstrata que só um olhar atento a adivinhava. Apenas visitantes especiais ganhavam o direito de desvelar e acessar a vagina “real”. Segundo Elisabeth Roudinesco, a biógrafa mais notória de Lacan, o psicanalista gostava de surpreender os amigos deslocando o painel. Anunciava então “A origem do mundo”, com a seguinte declaração: “O falo está dentro do quadro”. Boa parte dos intelectuais apresentados à tela ficava, como Emilia, bastante incomodada.
Por quê? 
Que há algo perturbador no órgão sexual feminino não há dúvida. Até nomeá-lo é um problema. Vagina, como tenho usado aqui, parece excessivamente médico-científico. É como pegar a língua com luvas cirúrgicas. Boceta ou xoxota ou afins soa vulgar e, conforme o interlocutor, pejorativo. É a língua lambuzada pelo desejo sexual – e, por consequência, também pela repressão. Não há distanciamento, muito menos neutralidade possível nessa nomeação. É uma zona cinzenta, entregue a turbulências, e a palavra torna-se ainda mais insuficiente para nomear o que Courbet chamou de “A origem do mundo”. Para Lacan, “o sexo da mulher é impossível de representar, dizer e nomear” – uma das razões pelas quais teria comprado o quadro.

Em busca de respostas para o horror de Emilia, que, por oposição, revela o meu não horror, naveguei por algumas interpretações do quadro – e da perturbação gerada por ele. Jorge Coli, historiador, crítico de arte e autor de um livro sobre Courbet para a editora francesa Hazon, assim comentou sobre A origem do Mundo, em um artigo publicado em 2007: “Parece-me a radicalização do processo de transformar a mulher em um objeto orgânico, pois ele esconde a cabeça (pensante) e os braços e pernas (elementos da ação). Vemos a ponta do seio e, sobretudo, o sexo”. Coli assinala que uma das questões do século XIX era a ameaça do desejo contida no feminino. Inerte, entregue à contemplação, a mulher não ameaçaria.

Em algumas manifestações escandalizadas, o fato de Courbet ter “reduzido” a mulher a um pedaço da anatomia foi considerado uma afronta. Uma mulher sem cabeça, sem braços, sem história. A pintura chegou a ser definida pelo escritor e fotógrafo francês Maxime Du Camp como um “lixo digno de ilustrar as obras do Marquês de Sade”. Análises mais psicanalíticas explicam o horror de quem olha pela castração. Diante do espectador, entre as coxas abertas da mulher se revelaria a ferida aberta, a falta, a impossibilidade de ser completo. As mulheres se horrorizariam pela constatação da castração, os homens pelo temor a ela. Se alguns olhares produzem pistas, outros reforçam apenas o incômodo que a obra produzia.
O efeito do quadro já foi tentado em fotografias de mulheres, em geral prostitutas, colocadas na mesma posição, mas o resultado revelou-se diverso. Ao transpor para a fotografia, não é mais a imagem de Courbet, mas outra. Até que, em 1989, uma artista francesa, Orlan, fez algo marcante – e com grande potencial para gerar polêmica – a partir da obra original. Ela reproduziu a pintura trocando a vagina por um pênis – ou a boceta por um caralho. E chamou-a de A origem da guerra. Olhar para essa imagem causa um estranhamento, especialmente porque a posição, deitada de costas, é muito mais íntima da mulher do que do homem. O pênis, no caso, se oferece ereto ao olhar, mas a partir de um corpo na horizontal, entregue.

É instigante, desde que a provocação não seja reduzida a um feminismo indigente, banalizado pela crença pueril do “a mulher gera a vida, o homem a morte”. A intenção de Orlan, segundo Roudinesco, era bem mais refinada. Ela “pretendia desmascarar o que a pintura dissimulava, realizando uma fusão da ‘coisa’ irrepresentável com seu fetiche negado”. Reivindicava então a “imprecisão do gênero e da identidade” que marca o nosso tempo, anunciando, por sua vez: “Sou um homem e uma mulher”.

O que se pode afirmar é que Courbet revelou o que está sempre coberto, oculto, escondido. No Carnaval brasileiro, por exemplo, como lembra a psicanalista Maria Cristina Poli em um artigo interessante sobre o feminino, tudo é exposto – e até superexposto – do corpo da mulher, menos a vagina. Mas a força do quadro não está só no “mostrar”. Há algo de incapturável e único na forma como Courbet mostrou o “imostrável”, já que a transposição da imagem para a fotografia não causa o mesmo efeito. E o que é?
Não sei.

A vagina pintada por Courbet é peluda como não vemos mais nos dias de hoje. A depilação quase total do sexo feminino tornou-se um popular produto de exportação do Brasil. Tanto que virou um dos significados da palavra “Brazilian” no renomado Dicionário Oxford: "Estilo de depilação no qual quase todos os pelos pubianos da mulher são retirados, permanecendo apenas uma pequena faixa central”. Pelo visto, a partir dos trópicos supostamente liberados e sexualizados, a vagina depilada virou um clássico contemporâneo.

Este é um ponto interessante. Ao primeiro olhar, a extração dos pelos serviria para revelar mais a vagina, mas me parece que este é mais um daqueles casos, bem pródigos na nossa época, em que se mostra para ocultar – a superexposição que ofusca e cega. A vagina sem pelos é uma vagina flagelada – e arrancar os pelos com cera é mesmo um flagelo. É também uma vagina infantilizada pela força. E é ainda uma vagina esterilizada, já que vale a pena lembrar que no passado recente essa depilação agressiva só acontecia nos hospitais para, supostamente, facilitar o parto. “Se não depilo totalmente, me sinto suja”, disse-me uma amiga. Suja?

Em janeiro de 2000, a atriz Vera Fischer exibiu sua vagina peluda em um ensaio fotográfico da revista Playboy. Causou furor. Falou-se na “Mata Atlântica”, na “Amazônia”, na “selva” onde sempre é perigoso penetrar. Havia algo de poderoso e incontrolável na vagina em estado “natural” de Vera Fischer, e a polêmica se fez. Era uma mulher não domesticada ali. Uma mulher adulta.
Não me parece – e nunca saberemos se tenho razão – que, se Courbet tivesse pintado uma vagina careca, ela teria causado tanto o horror de Emilia quanto o êxtase em mim. A vagina pintada por Courbet é uma vagina que revela. Mas o quê?

Não sei. A maravilha da arte é que ela nos transtorna sem a menor intenção de nos dar respostas – muito menos caminhos a seguir. A arte é sempre labiríntica. Não há sentimentos “certos” ou “errados” diante da expressão artística, há sentimentos apenas. Movimentos. Que nos levam por aí, aqui. É em respeito a essa ideia que decidi não colocar nenhuma imagem do quadro aqui, nem mesmo um link – ou um atalho – para a imagem na internet. A busca da origem do mundo é pessoal e intransferível. Assim como a decisão de buscá-la.

A obra de Courbet sempre foi oculta por uma outra pintura. Ou cortina. Exceto agora, que a exibição no museu deu a ela uma espécie de salvo-conduto, por ser ali “o lugar certo”. De algum modo, até então, a vagina mais famosa da História da Arte fora coberta por um véu – além do véu representado pela própria pintura.

Decidi não cobrir minha reprodução de A origem do mundo com uma burca. Vamos ver o que acontece.  




segunda-feira, 18 de junho de 2012

Balada de Gisberta


Imagem: Google

  Balada de Gisberta
  Perdi-me do nome,
Hoje podes chamar-me de tua,
Dancei em palácios,
Hoje danço na rua.
Vesti-me de sonhos,
Hoje visto as bermas da estrada,
De que serve voltar
Quando se volta p’ró nada.
Eu não sei se um Anjo me chama,
Eu não sei dos mil homens na cama
E o céu não pode esperar.
Eu não sei se a noite me leva,
Eu não ouço o meu grito na treva,
E o fim vem-me buscar.
Sambei na avenida,
No escuro fui porta-estandarte,
Apagaram-se as luzes,
É o futuro que parte.
Escrevi o desejo,
Corações que já esqueci,
Com sedas matei
E com ferros morri.
Eu não sei se um Anjo me chama,
Eu não sei dos mil homens na cama
E o céu não pode esperar.
Eu não sei se a noite me leva,
Eu não ouço o meu grito na treva,
E o fim vem-me buscar.
Trouxe pouco,
Levo menos,
E a distância até ao fundo é tão pequena,
No fundo, é tão pequena,
A queda.
E o amor é tão longe,
O amor é tão longe… (…) 

  Maria Bethânia Viana Teles Veloso nasceu no dia 18 de junho de 1946, em Santo Amaro da Purificação,   na Bahia. Segundo o jornal atarde.uol.com.br Maria Bethânia vai comemorar seu aniversário de 66 anos com a mãe, Dona Canô em Santo Amaro.  
  Hoje eu poderia escrever o quanto Bethânia tem sido importante na minha vida, alegrando e marcando tantos momentos. Sua voz, interpretação e poesia tem me acompanhado desde a minha juventude e,  ouso dizer, temos envelhecido juntas, ainda que ela lá e eu cá. Podem dizer que ela é cafona, não me importa. Podem dizer que ela canta músicas de dor de cotovelo. Não me importo. Eu também tenho um pé na cafonice e muitas vezes Bethânia serviu de trilha sonora para meus amores e dores.
 

 "Ficaram as canções e você não ficou".

 

O Álbum Oásis de Bethânia, lançado em março desse ano (2012), é o seu mais novo trabalho.
Todo sucesso, sorte e saúde à Abelha Rainha. Feliz aniversário, Maria Bethânia!

domingo, 17 de junho de 2012

Vidas Inteiras

Vidas inteiras
Adriana Calcanhoto

Não seja por isso eu não tenho pressa
Eu posso esperar vidas inteiras
Mas tenha certeza de que lhe interessa
Deixar escapar o ouro do agora
Para que não seja numa tarde dessas tarde demais

Não seja por isso eu não tenho pressa
Eu posso esperar vidas inteiras
Mas tenha certeza de que lhe interessa
Deixar escapar o ouro do agora
Para que não seja qualquer tarde dessas tarde demais.

   

 Acesse também:
www.adrianacalcanhotto.com

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Uma vida sem violência é um direito das mulheres.





Reproduzimos abaixo denúncia feita contra militante, assessor de candidato a prefeito do Rio Branco no Acre e dirigente do Partido dos Trabalhadores, homem que atende pelo nome de Jô Luiz Fonseca
Segundo a denúncia esse senhor intimida a ex-mulher que por diversas vezes foi agredida fisicamente por ele. O post foi escrito pela psicóloga Madge Porto e publicado originalmente no Blog da Amazônia, de Altino Machado.
Exigimos que o Partido dos Trabalhadores tome providências imediatas sobre o caso, se pronuncie sobre o assunto e dê o exemplo. No Brasil, a violência contra a mulher é crime e o agressor deve ser punido.


A lei n° 11.340, de 07 de agosto de 2006, conhecida como Lei Maria da Penha:
"Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do §  
8° do artigo 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e erradicar a
violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra 
a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras
providências".

Portanto, Nenhuma tolerância à violência praticada contra as mulheres.



Eis o texto-denúncia:
Há muito tempo milito no movimento feminista por entender que as mulheres têm direitos pelo simples fato de serem humanas. Assim, não aceito que mulheres sejam agredidas, ganhem menos pelo mesmo trabalho que um homem faz ou que seja a principal responsável pelos cuidados com as crianças. Para defender esses direitos é que também me filiei ao PT, ainda quando morava em Olinda (PE), antes de me fixar no Acre.
Diante dessa trajetória, é que venho publicamente para mostrar minha indignação diante de um fato que muito me choca e me assusta. Não apenas por ser feminista, mas por ser pesquisadora do tema sobre a violência contra as mulheres.
A Lei Maria da Penha é fruto da luta das mulheres diante de tanta violência sofrida, principalmente pelos homens da família e mais precisamente maridos e companheiros, ex-maridos, ex-companheiros e ex-namorados.
Mulheres são agredidas a cada quatro minutos no Brasil, 28,9% a 36,9% das mulheres já sofreram violência física e/ou sexual (D'Oliveira et al., 2009) e que 76% as mulheres usuárias do serviço público de saúde relatam pelo menos um episódio de violência na vida (Schraiber et al., 2007).
Isso demonstra que a violência está presente na vida das mulheres apesar de toda nossa luta. Ainda precisamos recorrer à lei, que agora, através do ativismo jurídico do Supremo Tribunal Federal, amplia as possibilidades de denúncia, pois qualquer pessoa que presenciar ou souber que uma mulher sofre violência pode fazer a denúncia. E é amparada nessa lei que faço meu relato.
O petista Jô Luiz Fonseca é um homem que bate em mulher -disso sou testemunha-, e continua intimidando a ex-mulher dele, que é minha amiga, em situações públicas. Ele é assessor do pré-candidato a prefeito do PT em Rio Branco, Marcus Alexandre, além de sobrinho do senador Aníbal Diniz (PT-AC), que jamais apoiou o comportamento violento dele em relação à ex-mulher.
Jô Luiz Fonseca já extrapolou os limites da boa convivência, da cultura de paz e do direito da mulher, qualquer mulher, viver sem violência. É por isso que me vejo no dever de tornar pública a questão.
Fiz a denúncia inicialmente ao PT de forma que tomassem uma providência internamente. Mas não obtive nenhuma resposta. O PT de Rio Branco não deu nenhuma atenção à minha denúncia.
Fiz também a denúncia junto à Secretaria Estadual de Mulheres do Acre. Obtive orientações de procurar a Delegacia da Mulher (atitude que as vítimas já tinham tomado) e promessa de apoio jurídico caso necessitassem. Assim, diante de todas essas tentativas, não me restou outra forma senão apelar para a mídia.
Por isso, descrevo mais detalhes: apesar de estarem divorciados, Jô Luiz Fonseca não deixa sua ex-esposa em paz. Agora que juridicamente não estão mais casados, ele está ameaçando a ex-esposa e também as mulheres que são amigas dela e que estão acompanhando-a nas situações públicas. Ele parece achar que pode tudo, não sei se por conta do cargo de confiança que ocupa no governo estadual, embora, no meu entendimento, deveria ser um cargo que o colocasse como alguém que deve ser exemplo de figura pública e não de desrespeito aos diretos das mulheres.
Outra questão que me intrigou foi a atitude da Delegacia da Mulher diante da queixa: não atuou como deveria, pois orientou as mulheres agredidas a irem para casa para "se protegerem" e ele, o agressor, ficou numa festa, já por duas vezes.
Com o meu relato quero apenas que ele pare de incomodá-la, que não se ache no direito de intervir na vida dela e nem de nenhuma outra mulher. Talvez por ser uma pessoa importante do partido se ache nesse direito, contudo o que me preocupa é que homens de bem, profissionais de respeito, pais de família e homens sem antecedentes criminais assassinaram suas namoradas, esposas ou ex, como foram os casos de Doca Street, que matou a companheira Ângela Diniz, do jornalista Pimenta Neves que matou a ex-namorada Sandra Gomide, de Lindomar Castilho, que matou a ex-esposa Eliane de Grammont, ou do jovem Lindberg, que matou a ex-namorada, a adolescente Eloá, só para citar alguns exemplos.
Todos os dias, mulheres são mortas desse jeito no Brasil por homens que não admitem que as mulheres deem um fim à violência para viver outra vida. Homens que se veem como donos das mulheres e que num momento de desespero, que eu avalio como desespero do machismo mais absoluto, matam as mulheres. Depois, arrependidos e desesperados, agora pela culpa, dizem que não queriam matar. Ou, o que é pior, que fizeram por amor.
Acredito que de fato eles se arrependam de ato tão horrendo, contudo esse arrependimento não devolve a vida das vítimas, e em nada mudará as consequências da mutilação sofrida, como foi o caso da biofamacêutica Maria da Penha Fernandes, quem deu o nome à lei 11340/2006, mais conhecida como Lei Maria da Penha, que ficou paraplégica. Assim, é preciso que se fale, que se denuncie, que não fiquemos acuadas para que nenhuma outra mulher seja vítima de tragédias como essa e depois os assassinos fiquem soltos, refaçam suas vidas e as mulheres tenham perdido a única oportunidade que se tem de viver.
Caso esse episódio fique sem uma resolução concreta, será uma vergonha para o Partido dos Trabalhadores. Sinto-me indignada com esses acontecimentos e não quero ser acusada de ter calado diante da violência. Não quero um prefeito para Rio Branco que, sendo sabedor desses fatos, não se posicione e não tenha uma intervenção concreta no caso, pois trata-se de uma pessoa que assessora e apoia a sua candidatura. Caso a candidatura seja vitoriosa, certamente o agressor fará parte da administração municipal, principalmente quando diante de uma denúncia como esta todos se calaram.
É considerando tudo isso que venho a público solicitar ao homem público Jô Luiz Fonseca, que conheço há alguns anos, que já frequentou a minha casa e eu a deles quando eram casados, que, em nome dos direitos que as mulheres têm de uma vida sem violência, que siga a sua vida e deixe que sua ex-esposa siga a dela. E que os homens e mulheres do PT, em especial o candidato a prefeito Marcus Alexandre, ajudem a trazer bom senso às atitudes de seu assessor. Por fim, que, se nada disso for suficiente, que se faça Justiça.
Madge Porto é psicóloga clínica no Acre.

Esclarecimento
O Blog da Amazônia conversou por telefone com Jô Luiz Fonseca, a quem ofereceu o mesmo espaço para que possa se manifestar. Ele enviou a nota de esclarecimento a seguir:
"Venho manifestar indignação com o fato relatado pela psicóloga que trata de questões particulares à minha família. Cabe aqui esclarecer que não existe nenhuma intimação na Justiça contra minha pessoa em relação a minha ex-esposa e nem em relação a qualquer outra mulher. Respeito à mãe do meu filho e todas as mulheres que fazem ou não parte da minha vida.
Intimidação a quem quer que seja, principalmente à minha ex-mulher não faz parte do meu caráter e da minha formação familiar. O único contato que mantenho com ela é para tratar de assuntos relacionados ao nosso filho, onde sempre buscarei exercer o meu direito de pai, que é cuidar, educar, dar carinho e condições para que ele possa se tornar um cidadão de bem.
Peço apenas que o meu nome e o da minha família sejam preservados de ataques que visam apenas caluniar e tentar me prejudicar no plano pessoal e profissional.
Finalmente, gostaria de ressaltar que mantenho em dia minhas obrigações de pai, com o pagamento das despesas do nosso filho, honrando todos os compromissos da separação judicial, que foi feita de forma amigável e que  atualmente não exerço nenhum cargo de confiança no governo."